A arte de perfil

Por Raul Lopes, em CINEMA

A arte de perfil

18 de Novembro de 2017 às 18:02

Esse post não possui como finalidade resumir o atual cinema sul-coreano, pretensão que seria no mínimo desastrosa, intento apenas um pequeno relato sobre a forma com que o diretor Hong Sang-Soo conduz o seu cinema autoral nas suas duas últimas produções.

A praia à noite sozinha (2017) e Um dia depois (2017) são exemplos de um cinema barato e simples, não falei simplista, o simples não é o fácil. O simples é o não inventar quando se tem tudo diante de uma conversa entre duas pessoas num plano perfil de 15-20 minutos.

Se tomamos como parâmetro a Nouvelle Vague, Hong Sang-Soo é facilmente associado a este movimento quando explora as relações de um casal, como feito por Eric Rohmer ou François Truffaut ou quando explora a estética visual como na elaborada direção de Jean-Luc Godard, todos esses, insufladores do movimento cinematográfico francês da década de 60.

Hong Sang-Soo abusa da câmera no plano perfil, as tomadas são longas e o exercício da câmera de aproximar para um plano fechado aquele que fala, nos faz imaginar a interpretação (não vista) daquele que ouve, e o mais interessante é quando o diretor faz exatamente o contrário, a câmera fecha naquele que ouve e deixa a imaginação dividida entre a interpretação de quem fala (não vista) e o pensamento daquele que calado escuta.

Até mesmo quando não há algum diálogo somos convidados a nos transportar para o imaginário de sentimentos da personagem, em closes rápidos e silenciosos se traduz a frustração ou a resignação de cada um.

A relação cotidiana dos casais, os encontros e desencontros amorosos e as relações de amizade são temas simples e frequentes em sua obra, mas a habilidade de Hong Sang-Soo está na condução do enredo que explora muito bem o posicionamento de câmera. Na literatura não são raros os casos de obras construidas através de relatos de cartas escritas pelas personagens, de onde se pode retirar o caráter e a fragilidade de cada um dos envolvidos, no caso de Hong, esse quebra cabeça é exposto nos diálogos entres os poucos atores que compõem a trama.

Assim como na Nouvelle Vague existe uma pitada de humor, um humor romântico, algo que se distancia de Bergman, mas que aproxima deste quanto nos oportuniza em retirar da tela aquilo que não se vê.

Contraindicado para aqueles que procuraram superproduções ou o cinema como entretenimento fácil e frugal. Se bem que, para esses casos, reformulo a prescrição, Hong Sang-Soo é o antídoto.

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