A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica

Por Raul Lopes, em ENSAIO

A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica

16 de Março de 2023 às 02:54

Este texto trata-se de um pequeno relato sobre a obra "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica" de Walter Benjamim (1892 – 1940).

 

Walter Benjamim é um ensaísta, filósofo e sociólogo judeu alemão que figurava ao lado dos criadores da escola de Frankfurt, de nomes como o de Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Otto Kirchheimer dentre outros.

 

Esta obra é pioneira em propor uma reflexão filosófica sobre o cinema e a posteriormente chamada indústria cultural.

 

Partimos aqui do contraponto proposto pelo seu colega Adorno apresentado em carta enviada para o próprio Walter Benjamin em resposta ao ensaio recebido. Adorno defende que a indústria cultural inibe a intelectualidade e o senso crítico, ficando, portanto, o universo condenado à ignorância. Por outro lado, Walter Benjamim se posiciona por uma ideia nem tão maléfica e até mesmo otimista da atuação da indústria cultural cinematográfica (aqui expressa pelo termo “reprodutibilidade da arte”).

 

Para exemplificar a construção da ideia de Walter Benjamim imaginemos que, à época, caso quiséssemos apreciar a obra de arte Monalisa teríamos que ir até a França no museu do Louvre para poder contemplá-la, mas é sabido que hoje isso não seria necessário, a tecnologia e suas diversas formas de reprodutividade a obra de arte vem até nós, pelo menos a sua imagem. Importante destacar que esse papel que hoje a tecnologia proporciona era realizado pelo cinema nos anos 30 (época da produção do ensaio). Por esse motivo, o cinema ganha importante espaço para análise dos efeitos da reprodutibilidade da arte na obra de Benjamim.

 

O autor defende que toda obra de arte possui uma Aura, algo próprio, é aquilo que choca o espectador ao contemplá-la e alega que a sua repetibilidade gera uma diminuição desta Aura. Pela repetição perde-se memória, pois anestesia os sentidos e gera o esquecimento, a obra perde valor (Aura), deixa de ser importante e impactante para o espectador e acaba caindo no seu esquecimento, havendo uma destituição da raridade da arte.

 

Apesar de reconhecer a perda da Aura, Walter Benjamim acredita que a obre de arte tem uma característica dialética (especificamente o cinema), pois se por um lado a sua repetibilidade gera a perda da Aura, por outro, ganha importante papel em poder restaurá-la e promover mudaças sociais.

 

O que pode parecer contraditório na ideia de Benjamim é melhor explicado quando se observa duas possíveis consequências para a repetibilidade da arte pelo cinema: por um lado existe a Estetização da política que ocorre quando a repetibilidade tem a finalidade de embelezar a realidade, como era feito pelos nazistas com utilização do cinema para encobrir as mazelas do regime e ao mesmo tempo enaltece-lo, ou seja, a arte com a finalidade de alienar o espectador. No entanto, com a mesma câmera, poder-se-ia também filmar e reproduzir a Politização da arte quando o cinema se propõe a restaurar a aura, propor uma reflexão, despertar o senso crítico e até mesmo uma revolução.

 

Percebe-se então que Benjamim demonstra-se ciente da perda da Aura, mas acredita na sua restauração quando a reprodutibilidade da arte é utilizada como força de politização da arte e não como mera estetização política. De um lado, a reprodutibilidade das obras artísticas traz consigo a perda de sua singularidade própria. De outro, pode ser entendida como uma ferramenta muito importante para a construção de uma sociedade mais justa do ponto de vista social. Walter Benjamin tem uma postura otimista da reprodutibilidade técnica, já que, apesar de essa destruir a aura da obra de arte, esta abre espaço para profundas transformações sociais.

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