A Terra e a Sombra (Colômbia, 2015)

Por Wilson Araújo, em CINEMA

A Terra e a Sombra (Colômbia, 2015)

16 de Setembro de 2016 às 12:09

O homem idoso caminha solitário pela estrada de terra, ladeada pela plantação de cana, quase sem acostamento. Caminha vagarosa e resignadamente. O caminhão passa por ele, obrigando-o a entrar na plantação e respirar a poeira que sobe. Resignadamente.
O cenário é tão típico e conhecido que parece uma cena cotidiana. O homem volta pra casa depois abandonar tudo em busca de uma vida melhor. O filho está doente, não pode respirar a poeira numa casa no meio do nada, nem a fuligem, numa terra de queimadas. A saúde não existe e os médicos nada fazem. Aliás, não há médicos. Só pobreza, mesmo.
A mulher e a nora do homem acordam cedo, antes do dia clarear e tocam com suas marmitas pra cortar a cana que cerca tudo, pra depois comer a boia fria e mendigar parcos trocados que não raro atrasa.
O neto, é claro, caminha longas distâncias pra estudar numa escola vagabunda, esquecida pelo Estado e que, em verdade, só ocupa seu tempo de infância já que a maturidade de seu corpo lhe reserva um facão na mão e muitas horas de corte em labuta não recompensada.
A família, como boa parte dos trabalhadores da região, tem a tez escura dos negros e indígenas, o rosto queimado, a pele curtida, a expressão cansada. Uma expressão, fatalmente, resignada.
Não fosse a entrega, no título, de onde se passa o filme poderia ser em qualquer lugar do Brasil. Do Nordeste aos latifúndios de São Paulo e Centro-Oeste. É interessante notar que a realidade das camadas subalternas é praticamente inalterada em tão diferentes lugares e culturas. O que leva invariavelmente a pensar sobre a historicidade dos locais e a forma como a atual forma política e social das populações foi desenvolvida.
Para entender isso, entretanto, há que se ler... e muito. Não em comentários de filmes, mas em livros de história.
Aqui, discorremos apenas sobre o sumiço dos pássaros quando chamados pelo assovio da criança, sobre o fogo na porta dos quartos e o desespero dos impotentes.
Sobre a bola e a pipa. E o sorvete cheio de poeira.
Cabe só dizer que a revolta e a pena do que se assiste é o retrato de quem, achando terríveis as consequências da pobreza, clama por mérito a quem não tem o que comer.
E como a cinza que encharca os pulmões, despede a fraca força como se vão os passarinhos.
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