As Vinhas da Ira (EUA, 1940)

Por Leandro Lages, em CINEMA

As Vinhas da Ira (EUA, 1940)

09 de Julho de 2014 às 23:30

O que se pode esperar de um filme cujo roteiro foi inspirado em um livro que proporcionou ao seu autor (John Steinbeck) os prêmios Nobel de Literatura e Pulitzer, considerado uma das obras essenciais da literatura mundial?

Baseado na obra de igual nome, o filme “As Vinhas da Ira” (The Grapes os Wrath) também alcançou grande sucesso, tanto que arrebatou o Oscar de melhor diretor em 1941, além de ter concorrido em várias outras categorias como melhor filme e melhor ator, e isso em tempos em que o Oscar ainda não havia se vulgarizado comercialmente.

As Vinhas da Ira retrata a saga de uma família no pós-crise de 1929 nos EUA, enfrentando sérias dificuldades após a perda da terra em que moravam e extraíam o seu sustento. A partir deste ponto inicia-se o enredo, quando a família, expulsa de sua terra, migra em busca de melhores oportunidades nos férteis e belos campos agrícolas da Califórnia.

Parte da obra foca a sofrida viagem à Califórnia a bordo de um caminhão. Neste ponto o filme cresce com a bela fotografia em preto e branco, além de manter-se fiel à narrativa original ao demonstrar a união da família em torno da esperança e da dúvida de dias melhores em um destino até então desconhecido.

Mesmo diante de uma realidade que se descortina cada vez mais negativa e de uma situação financeira que se agrava a cada dia, ainda assim a esperança de um novo amanhã se mantém forte.

Apesar de a obra ressaltar a necessidade de nunca se perder a esperança, o seu foco principal representa um alerta aos dramas e flagelos de um país debilitado pela grande depressão, situação em que a exploração do homem pelo homem mostra-se ainda mais cruel.

Além desse forte apelo social, explora-se bastante a ligação do homem com a terra, tanto que em determinado momento da obra o narrador demonstra que “a terra, assim como o homem, é muito mais que os elementos que a compõem”.

A obra retrata essa busca constante de uma terra onde se possa viver com dignidade, algo similar ao ideal bíblico da Terra Prometida ou ao drama dos nordestinos iludidos por melhores condições de vida nas grandes cidades.

O filme abrange um pouco mais da metade da obra original, deixando de lado a parte final, momento em que o enredo alcança um clímax surpreendentemente dramático.

A partir desse momento (e o filme não mostra isso) o drama se agrava e cada vez mais resta apenas uma volátil esperança aos protagonistas. Mesmo diante de um cenário pavoroso tem-se a impressão de que a união se torna mais robusta, não só da família, mas de todos aqueles que se encontram na mesma situação.

O instante final do livro (e o filme não mostra isso) retrata um dos mais comoventes atos de caridade e desprendimento externados por um ser humano.

Somente o talento de um escritor do quilate de John Steinbeck para descrever tal cena, principalmente a maneira como os lábios da sofrida protagonista que praticou o ato de caridade se curvam num sorriso misterioso igualável ao sorriso de Mona Lisa.

Para aproveitar intensamente o livro e o filme, sugere-se primeiro assistir e depois ler. A ordem inversa pode tornar o filme aparentemente desnecessário. 

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