CINEMA AO REDOR: Nouvelle Vague

Por Raul Lopes, em CINEMA

CINEMA AO REDOR: Nouvelle Vague

14 de Maio de 2014 às 08:00

"A história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem"
Jean-Luc Godard

 

 
Esse negócio de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” é o mesmo que “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Explico. Essas frases foram atribuídas a Glauber Rocha e a Che Guevara respectivamente, mas há quem jure de pé junto que esses dois nunca pronunciaram tais ditos.
 
A da “câmera...”, segundo o próprio Glauber, foi pronunciada pelo falecido cineasta brasileiro Paulo Cesar Saraceni que, juntamente com Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, iniciaram o Cinema Novo brasileiro na década de 60. 

Nessa confusão da paternidade de frases, não causaria surpresa se o autor desta ultima fosse um francês. É porque lá, no final dos anos 50, um grupo de jovens cineastas na sua maioria oriundos da revista Caihers du Cinema, liderados pelo teórico de cinema André Bazin, estavam fartos da forma pomposa e hermética que o cinema francês estava tomando e, diante disso, remaram para a direção oposta, dando origem ao embrião da Nouelle Vague.
 
 
O grupo era composto por cinéfilos, portanto, cineastas desconhecidos que futuramente seriam respeitados e elogiados pela qualidade de suas obras. O grupo era formado por: François Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Alain Resnais, Jacques Rivette, dentre outros.
 
Essa turma era muito capaz, tanto para criticar quanto para realizar filmes. Não se tratava de um grupo de intelectuais que faziam filmes para poucos ou para outros críticos de cinema, pelo contrário, na Nouvelle Vague a câmera passa a ter um uso semelhante ao de uma caneta, ou seja, sem muitas regras ou definições, as produções eram pulsantes, jovens, ousadas e dinâmicas. Cinema feito com paixão.
 
Outras características da Nouvelle Vague:
- Produções baratas (várias delas, financiadas pelos próprios diretores);
- Atores pouco conhecidos;
- Muitas filmagens nas ruas, em oposição aos estúdios;
- Liberdade estética: cortes repentinos e câmera em qualquer ângulo ou posição;
- Condução não linear;
- Temas cotidianos e tabus;

- Personagens à margem da sociedade, como criminosos, adúlteros e rebeldes.

Como era de se esperar, as produções possuíam baixo orçamento, portando, exigia-se muito do diretor o que acabou por associar a Nouvelle Vague à teoria do “cinema de autor”.  Essa teoria colocava a figura do diretor como o principal responsável pelo filme. O diretor possuía total liberdade para criar, não se prendendo a regras, por esse motivo, frequentemente deixava transparecer marcas pessoais em suas as obras.
 
Essa teoria coloca o diretor no epicentro da produção cinematográfica, por isso, não raro,  alguns críticos e cineastas discordam radicalmente dessa teoria por acreditam que o cinema não é uma arte individual e sim coletiva.
 
 
Sobre os diretores, seria injusto citar ou comentar sobre alguns, pois cada um merece um post inteiro, melhor, cada filme da Nouvelle Vague merece um post inteiro. Mas com aqui a pretensão é outra, apenas apresentar ideia, teremos que deixar de lado detalhes da Nouvelle Vague, como a relação tumultuada entre Truffaut – Godard (destaque para o documentário: Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague - 2008) o marginalizado (sentido de periférico) diretor Louis Malle, a importância do cinema de Hitchcock para François Truffaut, a genialidade e importância de atores como Jean-Paul Belmondo, Jeanne Moreau, Jean Pierre Leaud... e outras preciosas histórias.
 
 
Para finalizar, segue uma lista de filmes selecionados por este blog para melhor entender a Nouvelle Vague. Os 5 primeiros filmes fazem parte da quintologia de Antoine Doinel, clássico personagem do diretor François Truffaut:
 
 1 - Os Incompreendidos (1959) – François Truffaut
2 - Antoine et Colette (1962) – François Truffaut
3 - Beijos Roubados (1968) – François Truffaut
4 - Domicilio Conjugal (1970) – François Truffaut
5 - Amor em Fuga (1979) – François Truffaut
6 - Acossado (1959) – Jean-Luc Godard
7 - Alphaville (1965) - Jean-Luc Godard
8 - Os Primos (1959) – Claude Chabrol
9 – Minha noite com ela (1969) - Eric Rohmer
10 – Hiroshima, Meu Amor (1959) – Alain Resnais
 
 
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