Cronicamente viável: Os sobrinhos

Por Raul Lopes, em CRÔNICA

Cronicamente viável: Os sobrinhos

07 de Setembro de 2016 às 03:01

"Os tempos idos nunca esquecidos trazem saudades ao recordar...". Essa frase que inicia o samba tempos idos, fruto da parceria de Cartola e Carlos Cachaça, se apresenta como uma espécie de presságio para o presente relato musical brasileiro.
Musicalmente, confesso que não sou fã dos anos 80, apesar de ter vivido parte da minha adolescência nessa década, pouca coisa me acompanha até hoje. Me considero mais cria da minha década de nascimento (anos 70) do que daquela que agucei o meu juvenil ouvido. Claro, tenho boas lembranças dos inesquecíveis anos 80, de discos como: Nós vamos invadir sua praia do Ultraje, Psicoacústica do IRA!, Selvagem dos Paralamas e tantos outros. Mas não esse o ponto onde quero chegar.
Parto do fenômeno "Los Hermanos" para chegar a seus filhos. A forte influência do SKA do primeiro disco foi perdendo espaço para a MPB e com isso foi possível identificar um precioso nicho de intercessão, que já existia, entre ouvintes de Caetano, Chico, Gil, Novos Baianos, Secos e Molhados, Multantes e música Indie inglesa e norte americana... Resultado, um boom de seguidores sintonizados naquela nouvelle vague carioca.
Passou. Camelo e Amarante eram grandes demais para caber no Los Hermanos, continuam a produzir individualmente e se encontram apenas quando recebem uma ligação do gerente do banco. Público pra esse crowdfunding (vaquinha) não falta.
Por mais que tenha sido rápida a trajetória da banda, foi o suficiente para deixar um grande legado, o 'grande' (no sentido de importante) aqui se refere aos discos, que realmente foram bem inspirados, por outro lado, trouxe a reboque um 'grande' problema.
Numa pequena gira pelas produções nacionais atuais é facilmente perceptível a quantidade de bandas ou cantores (as) que acreditam na existência de um método Losermanico de fazer música (se deu certo eu também quero). Não falo de usar o trombone ou até mesmo um nipe de metais sem ataque, cantar de forma mais lenta ou até gritar refrão das músicas, falo de querer escrever como se fosse Chico, Caetano ou Clube da Esquina empunhando uma guitarra. Nada contra, mas aonde você vai com essa cara barbada?
O problema aqui não é "usar” a MPB e o Rock, o problema é na falta de criatividade, a vontade de querer achar tudo pronto. Se gostei vou comer até empanturrar. A palavra depurar está com os dias contados, logo, logo será um conceito indeterminado ou até mesmo um termo de considerável vagueza.
Poderia citar uma quantidade significativa dessas bandas que, querendo ou não, acabam ganhando uma coluna no Estadão ou na Folha como a que me deparei essa semana: “Bandas que você deve ficar atento” e, ao pesquisar, me deparei com mais do mesmo.
O ocorrido me faz pensar que grande parte dessa atual geração sofre da síndrome do ninho vazio, procurando um boneco pra colocar no lugar do filho que partiu. Assim como os anos 80, o Los Hermanos também passou.
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