EXTRACAMPO: Brasil x Argentina

Por Raul Lopes, em OPINIÃO

EXTRACAMPO: Brasil x Argentina

12 de Julho de 2014 às 23:33

Brasil e Argentina são historicamente rivais, existem relatos que desde meados de 1700 as duas nações já duelavam pela hegemonia continental. Realizando um salto na história e chegando ao final da década de 50/início de 60, o Brasil consegue sua glória máxima em 1962, época em que ganhamos o “caneco” motivo de muito orgulho à toda nação tupiniquim.

Durante a década de 60 tinhamos muito entrosamento, a coisa funcionava como uma orquestra, possuíamos um quarteto que poderia até olhar para o que os europeus estavam a fazer, mas quem tivesse o prazer de nos assistir poderia observar que ali tinha a essência brasileira, uma coisa nossa e tudo sob a tutela de um gênio.

Na década de 80, ainda durante a dura ditadura da Argentina e diante de muitas dificuldades, surge um gigante argentino que arrebata um título em solo estrangeiro jamais esquecido pelo seu povo, mágico. Enquanto isso, no Brasil, as coisas não emplacavam, apesar de um bom conjunto não tivemos sucesso em nossas empreitadas, a década foi argentina.

Nos anos 90 a coisa muda de figura, o Brasil volta a ficar na crista da onda, mais um troféu para nossa galeria e o reconhecimento mundial de um dos maiores talentos brasileiros.

Nos últimos 15 anos vejo a coisa mais para a Argentina (não é a toa os atuais resultados), temos talentos isolados e na maioria inexpressivos, por outro lado, a argentina se apresenta com mais qualidade, com mais verdade, tendo até o luxo de exportar talentos, é bem verdade que nesse aspecto nós também exportamos.

Não sei se a ideia desse texto está de fácil compreensão, por via das dúvidas posso detalhar os acontecimentos e até mesmo dar nome aos bois, até porque essa rivalidade não creio que exista.

Os dois primeiros parágrafos marcam as décadas de 50 e 60, aquela que tínhamos um quarteto fantástico liderado por um gênio chamado Gláuber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hiszman, que até poderia beber na fonte dos europeus (o neo-realismo italiano), mas ali tinha muito do Brasil, do regionalismo brasileiro como Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha/64). Em 1962 nosso troféu máximo foi o prêmio maior de Cannes,  a palma de ouro, com O Pagador de Promessas (Anselmo Duarte).

Como dito, durante a década de 80 ainda na ditadura militar argentina, surge um gigante argentino que arrebata um título em solo estrangeiro jamais esquecido pelo seu povo, mágico. Trata-se do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro por La Historia Oficial (Luis Puenzo, 1985), título que o Brasil jamais conseguiu.

Nos anos 90 a coisa muda, o Brasil apresenta Central do Brasil (Walter Sales/98) que arrebata o Urso de Ouro de Berlim e apresenta Fernanda Montenegro para o reconhecimento mundial.

Nos últimos 15 anos vejo a coisa mais para a Argentina, temos talentos isolados e na maioria inexpressivos, por outro lado a argentina se apresenta com mais qualidade. Estou falando de Diretores como Damián Szifrón e Lisandro Alonso e de produções como Pizza, Birra, Faso, Nove Rainhas, Medianeiras, O Último Elvis,  O Gato Desaparece, Um Conto Chinês, O Segredo dos Seus Olhos, Las Acacias até os novos Relatos Selvagens e Jauja que conta com a participação de Viggo Mortensen.

Ah ! Quanto ao luxo de exportar talentos, me refino ao brasileiro Fernando Meirelles (para os EUA) e o argentino Gaspar Noé (para França). Um tem no histórico Cidade de Deus (2002) e o outro o hipinótico Irreversível (2002).

O sociólogo Pablo Alabarces da Universidade de Buenos Aires juntamente com o Prof. Ronaldo Helal da UERJ, publicaram um estudo em que definia a intrincada trama de sentimentos mútuos entre os dois lados da fronteira, do trabalho pode-se resumir que: “Os brasileiros amam odiar a Argentina, enquanto que os argentinos odeiam amar o Brasil”. Segundo Helal, “qualquer rivalidade contém uma dose de admiração e de inveja” correto, mas no cinema não há espaço para rivalidade, aqui cabe apenas a admiração.

Acredito em dias melhores para o Brasil, nosso atual panorama não é bom, existem muitas produções e a maioria pobre e repetitiva, parece cinema feito em série, salvo raros talentos como O Som ao Redor (Kleber Mendonça/2013). É como estivéssemos num sistema fordista e a Argentina na forma artesanal, uma coisa mais elaborada, um produto customizado e com mais qualidade.

De qualquer forma, essas poucas linhas sobre o cinema brasileiro e argentino bem que poderiam refletir um pouco da historia futebolística dos dois países, para isso, basta uma releitura e deixar de lado a explicação.

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