Fertival de Violão de Teresina, 2017

Por Márcio Barros, em CRÔNICA

Fertival de Violão de Teresina, 2017

23 de Novembro de 2017 às 16:28

Sábado, 7 da noite. Do meu quarto, sinto as paredes estremecerem às pancadas dos sons graves de um ‘paredão’ da vizinhança. Pelo barulho não consigo distinguir a “música” que sou, miseravelmente, obrigado a ouvir. Por sorte já estava de saída para o Festival de Violão, que aconteceria logo mais no palácio da música.

No caminho, buzinas, ruídos de escapamento e mais música barulhenta. Tudo entrecortado por sirenes e fogos de artifícios. A noite, sorridente, exibia suas armas. Chego ao auditório do palácio bem no início da apresentação de Elodie Bouny, francesa de formação clássica. No seu repertório havia composições próprias (Anjo, Conversa das Flores e Que Lo Diga La Luna) e de outros compositores como Ernesto Nazareth, Sérgio Assad e Juan Falu. Elodie toca um violão limpo, delicado e tecnicamente impecável. Aproveitando o silêncio, utiliza-o como parte da música, pontuando a melodia ora com intensidade ora com leveza. Em alguns momentos dava até pra ouvir sua respiração.

Em seguida foi a vez de Daniel Murray que passeou com destreza pelo repertório de Egberto Gismonti (Frevo, Maracatu e Baião Malandro), Tom Jobim (olha Maria) e Marco Pereira (bate coxa). Além de tocar composições próprias como Samba pro Zé e Ensimesmada. Daniel parecia tocar vários violões em um só explorando bem a polifonia, mas sem tropeçar nos cacoetes do virtuosismo.

Na sequencia o internacionalmente aclamado Marco Pereira interpreta sobriamente canções de Dilermando Reis, Caymmi e Baden Powell, com arranjos dele próprio. Marco toca de olhos fechados, talvez para sentir a música retornar para si enriquecida pela recepção da plateia. Parece estar na verdade assistindo ao próprio espetáculo.

O evento se encerra, magistralmente, com a participação de Elodie e Daniel, juntos os três violões parecem um só. O auditório de duzentos lugares, quase lotado, aplaudiu de pé. Havia pessoas de várias idades e classes sociais unidas apenas pela beleza de uma arte sem palavras, pura forma. Uma arte que tinha o poder de fazê-las peregrinar livres pelas vias do espaço-tempo. Saí dali quase esquecido que, do lado de fora, o resto cidade me aguardava agonizante e furiosa emitindo seus estertores ruidosos noite a fora.

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