Instinto materno (Romênia, 2013)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Instinto materno (Romênia, 2013)

27 de Agosto de 2014 às 00:42

Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança
Gênesis 1:26

 

Superproteção, amor, pena, ódio, frustração, recalque, apatia ... imagine todos esses sentimentos duelando para emergir durante os rápidos 107 minutos do filme.

Enquanto Nebraska (EUA, 2013) traz um panorama da relação familiar entre pai e filho, Instinto Materno direciona para a sublime relação entre mãe e filho. Essa relação explica a formação do homem no sentido masculino da palavra e apresenta-se como campo vastíssimo para psicologia e psiquiatria.

O filme praticamente não possui trilha sonora, os diálogos são muito bem elaborados e a trama se desenvolve de forma crescente dos primeiros minutos até o ultimo segundo do filme. Em homenagem ao roteiro e preservando o leitor, não darei nome aos personagens nem muito menos suas origens.

O roteiro relata a luta de uma mãe para "livrar" o filho de uma possível condenação decorrente de um acidente automobilístico. O exercício que o filme exige é de identificar o culpado, que ora é a mãe (superprotetora), ora o filho (fraco e ansioso), ora o pai (fraco e ausente), ora todos (fuga), ora ninguém (fatalidade).

O roteiro e a direção de Calin Peter Netzer, vencedor do urso de ouro em Berlim em 2013, merecem elogios pela forma segura que conduz a câmera e pela sutileza em explorar o tema. Aproximando-se do ponto central do filme, chega-se a impressão que por mais que os pais queriam o melhor para os filhos esse desejo deve ser dosado

A mãe comenta que só queria que o filho fosse bem sucedido, apresenta suas habilidades como se fosse uma demonstração de superioridade e mesmo diante de um momento extremamente delicado a mãe não sai do salto e brada o quanto preparou sua cria.

A mãe relata que o filho foi preparado e que desde pequeno fez curso de francês, inglês, poesia, natação, patinação artística durante e esqui e que ele é a única cosa que ela possui. Correto seu papel? mãe é mãe e a do filme se mostra no papel de uma leoa, que luta com todas as suas forças para proteger seu o filho indefeso (um homem de 34 anos).

Evitando e ao mesmo tempo querendo, o filho busca encontrar um distanciamento da proteção materna e por mais que a mãe queira figurar no papel de Pôncio Pilatos, o instinto materno inexplicavelmente se sobrepõe.

Os últimos 15 minutos do filme parecem não ter fim, espera-se uma redenção, aquela que o telespectador quer, aquela que nós queremos por senso de justiça, mas que tipo de justiça se pode esperar diante do instinto materno? Habilite-se para apedrejar. Não é a busca pelo culpado, mas entender a situação posta. Talvez a teoria dos valores possa ajudar. Estamos do lado de quem ? Diante da fragilidade a resposta é: depende.

Simbolicamente o destravar da porta do carro significa a liberdade: aquela em que a mãe perde um filho pro mundo. Aquela hora que, mesmo tardia, há de chegar. Instinto Maternal é um resumo, que provoca, pertuba e duela. Talvez a fatalidade seja a melhor saída.

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