Mãe (EUA, 2017)

Por Leandro Maciel, em CINEMA

Mãe (EUA, 2017)

06 de Outubro de 2017 às 16:39

Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz: “Lata”
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.

Gilberto Gil

Metáfora: aprendi na escola católica, nas aulas de Comunicação e Expressão e de Religião, que significa dizer algo por meio de alegorias. Os padres usavam-na com muita frequência.

A propósito, a convite de minha mulher, fui ver com ela o filme “Mãe!” (Mother! - EUA, 2017. Diretor: Darren Aronofsky). Ela me veio com uma conversa de que o roteiro falava por metáforas. Ora, metáforas... Sinceramente, não entendi o que ela queria dizer. Como também não compreendi as analogias que ela diz ter visto.

Vi o filme atentamente. Em torno de duas horas. Para alguns, um sacrifício; no meu caso, não. Fiquei tão atento e tão tenso, que nem vi o tempo passar. Um filme que prende a atenção. Vai perturbar e chocar algumas pessoas; outras, nem tanto. De qualquer forma, dificilmente alguém ficará indiferente ao final. Mesmo assim, confesso: não entendi se havia alguma entrelinha a ser observada.

Só consegui focar na trama. E o que vi foi a historia de um casal, que morava em uma casa de campo. Ele (Javier Barden), mais velho que ela, era um poeta que se recolhia em busca da inspiração perdida. Ela (Jennifer Lawrence), jovem, bela e cheia de vida, tentava dar todo o suporte para que ele não se preocupasse com coisas mundanas e cuidasse apenas de sua criação. O poeta parecia só ter olhos para a sua obra e para seus seguidores. Muitos o idolatravam, independentemente do que dissesse ou produzisse; e isso o agradava muito. Aparentemente, a esposa não tinha prioridade em suas atenções. Na verdade, passava a impressão de que ela era apenas mais uma de uma série de companheiras; não era a primeira e provavelmente não seria a última.

O casal vivia isolado nesse canto do mundo. No entanto, inesperadamente, começaram a aparecer visitas em casa. Visitas estranhas, que o poeta afirmava não conhecer. Muitas, várias pessoas. Cada vez mais e cada vez mais. Em quantidade e em “qualidade”. Aos olhos da esposa, indesejadas: mal-educadas, descontroladas, irresponsáveis, inconsequentes e que não tinham respeito pela casa. A todo instante teimavam em sentar em uma pia que não estava corretamente chumbada na parede. Aos olhos do marido, nem tanto: apenas visitantes e fãs de sua obra.

O que poderia ser um filme romântico, tornou-se um verdadeiro roteiro de terror. Para a dona da casa. Embora dissesse não ter controle sobre o que acontecia, o poeta não disfarçava a familiaridade com quem chegava e com as situações desagradáveis (para a jovem esposa!) que ocorriam na casa cada vez mais lotada.

Como disse, não entendi as supostas metáforas de que tanto se fala. Confesso que sou literal e não entendo ironias, analogias, muito menos linguagem figurada. Para mim, estrela é um corpo celeste, dois mais dois é igual a quatro e a menor distância entre dois pontos é uma reta. E ponto.

Fiquei intrigado com o fato de haver no filme um criador, uma fonte inspiradora, seguidores incondicionados e uma casa, ao mesmo tempo grande demais e pequena demais para todos. Lembre-se: uma casa destruída por um incêndio. O filme começa com a esposa terminando de reformá-la, enquanto o poeta tentava escrever aquilo que seria a obra de sua vida. Fiquei com a impressão de conhecer esse roteiro de algum lugar, embora contado de outra forma. Principalmente quando dois irmãos têm uma briga muito séria; e, depois, quando um recém-nascido aparece na casa. Esforcei-me, mas não lembro onde foi que eu vi essas histórias.

Bom, segundo algumas religiões, o mundo vai acabar em fogo. Muito fogo. Estudos astrofísicos confirmam essa previsão: daqui a 5 ou 7 bilhões de anos, não estaremos aqui para ver, mas o planeta Terra será absorvido pelo Sol. E desaparecerá, Deus existindo ou não. É uma informação científica (se é que se pode dar muito crédito para o que as ciências dizem) e baseada em dados creditados por estudiosos muito sérios.

E termino: não gosto de metáforas, não as entendo e nem vejo utilidade para essa figura de linguagem. O mesmo vale para as ironias. Odeio ironia.

LEANDRO MACIEL

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