O mensageiro

Por Márcio Barros, em CRÔNICA

O mensageiro

11 de Abril de 2020 às 12:56

O mensageiro entrou sorrateiro e silencioso pela porta aberta, numa manhã ensolarada. Encontrou cada coisa em seu devido lugar: O alheamento, a pressa de sempre e a segurança míope das frágeis certezas.
 
Era insignificante, quase invisível, indesejável como todos os mensageiros. Trazia uma mensagem com aviso de recebimento e verdades óbvias, mas estranhas  ao destinatário: A possibilidade iminente de tempos sombrios, Incertezas, Desolação e Morte.
 
Essas sentenças eram como que lembranças  remotas, quase íntimas ao destinatário, escusáveis, no entanto, pelo alheamento necessário ao curso da vida prática.
 
O mensageiro já transmitira a mesma missiva outras vezes. Sabia que a transmitiria outras tantas adiante. Não contestava. Era apenas um burocrata a serviço do acaso.
 
Sua função era tão somente repisar o óbvio e alertar sobre a urgência implacável do dia. Mesmo que nunca lhe dessem atenção.
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