O Portão

Por Márcio Barros, em OPINIÃO

O Portão

19 de Julho de 2017 às 02:55

A música o portão, de Roberto Carlos, é um bom exemplo de como a arte pode ser extremamente simples e sofisticada ao mesmo tempo. A letra narra o retorno de alguém depois de um longo período de ausência. Não sabemos o motivo do afastamento, se o narrador é homem, mulher, jovem ou adulto, da mesma forma como não há pistas de quem o recebe com os dois braços abertos e nem qual é o motivo da ausência.
Pode ser um filho(a), pródigo(a) retornando à casa. Ou um esposo(a) que se arrependeu de abandonar o cônjuge. Um boêmio fatigado suplicando abrigo, ou simplesmente alguém que decidiu tentar a sorte em outro lugar e resolveu voltar. A estória parece representar um quadro em perspectiva no qual a significação depende do olhar de quem o vê.
Mas algumas deixas são claras: o(a) narrador(a) voltou definitivamente. Seu retorno o faz perceber, olhando o passado, que ele(a) mudou, ao contrário do que deixou pra trás. E que o futuro “lhe sorri latindo”.
Quando ouço a canção, embriagado por circunstâncias e perspectivas atuais, vejo um casal se reconciliando e um grupo de amigos retomando um antigo projeto, “meio amarelado pelo tempo”, quase como o narrador(a) da estória, abrindo o portão do tempo, “colocando as malas” do passado no chão, dando alguns passos indecisos, mas “voltando pra ficar”.
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