Pais e filhos (Japão, 2013)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Pais e filhos (Japão, 2013)

12 de Novembro de 2014 às 01:39

O cinema oriental é pouco explorado pelo ocidente e não falo somente do Brasil. O soft power americano tem um poder de penetrar e ditar a cultura ocidental fazendo jus a máxima de que na etiqueta da globalização vem escrito made in USA.

A cultura acidental e principalmente latino americana possui uma forma até certo ponto explosiva e desesperada de resolver sues conflitos, algo muito passional. A família é uma instituição forte e o rompimento de seus laços é algo extremamente doloroso para os latinos.

O que Pais e Filhos apresenta é um exemplo dessa disparidade na forma de encarar, se comportar e resolver graves problemas familiares. Essa produção japonesa, dirigida por Hirokazu Kore-Eda foi vencedora do premio do júri de festival de Cannes de 2013. A direção é bem comportada, o roteiro respeita o tema, mas o que chama mais atenção e se torna um grande atrativo do filme é a reação e atitude dos personagens diante do drama apresentado.

O filme trata de uma troca de bebês, essa trama pode ser clichê e perfeitamente adequada para um dramalhão de novela da globo. O casal Ryota e Midori Nonomiya saíram da maternidade com Keita, eles são bem sucedidos e criam o filho para tornar-se independente, principalmente por exigência do pai. O outro casal, Yudai e Yukari Saiki, é praticamente o oposto, vivem de um pequeno comércio, possuem 3 filhos, um deles, Ryusei, que nasceu no mesmo dia que Keita com quem foi trocado.

Kore-eda (diretor) lembra que trocas de bebês aconteciam com certa regularidade nos hospitais japoneses nos anos 1960 e 70, a ponto de os pais passarem a escrever os nomes nos pés de seus recém-nascidos como é lembrado na trama do filme.

No roteiro, após 5 (cinco) anos do nascimento dos filhos, as famílias são informadas da possível troca dos bebês, situação comprovada por exame de sangue. A partir daí surge um grande questionamento, as famílias devem desfazer a trocar das crianças ?

Ryota Nonomiya e Yudai Saiki são pais bem distintos, a questão do "tempo" para cada um é a chave do roteiro. Enquanto Ryota não tem tempo para o filho o outro, Yudai, usa o lema “deixe para amanhã o que você poderia fazer hoje”. Essa diferença sob o aspecto temporal molda a personalidade dos pais cada família e essa concepção transmite reflexos para a visão de cada um no que diz respeito ao dinheiro, trabalho e educação.

A situação é bastante delicada e para Ryota, que assume um papel de protagonista, parece mais delicada ainda. Ao tempo em que seu pai diz: “... esse é o significado da família, seus filhos se parecem contigo, embora não vivam juntos. É uma questão de sangue”. Por outro lado também ouve que: “a convivência é o que importa, o sangue é o de menos, assim acontece com os casais”. O personagem se apresenta como o mais reflexivo, como se estivesse duelando contra seus sentimentos e talvez lutando contra o seu próprio desejo.

A habilidade do diretor está em explorar o drama sem ser apelativo, ele explora uma visão intimista da situação que em muitos momentos o drama dá vazão ao humor.

O filme leva a um questionamento sobre os valores familiares de hoje, um xeque mate nos laços sanguíneos. Não se deixe assustar pela nacionalidade do filme, trata-se de uma ótima oportunidade para conhecer o atual cinema japonês.

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