Sniper Americano (EUA, 2015)

Por Leandro Lages, em CINEMA

Sniper Americano (EUA, 2015)

18 de Março de 2015 às 15:34

Em junho de 2005, quatro soldados americanos estavam no Afeganistão monitorando de perto 150 talibãs fortemente armados.

Pouco depois de os soldados se posicionarem em uma colina para melhor observar os talibãs, aparecerem em sua frente dois camponeses afegãos com algumas cabras, acompanhados de um garoto de 14 anos. Os afegãos estavam desarmados.

Os soldados renderam os camponeses e passaram a discutir sobre o que fazer com eles. Deixá-los seguir adiante implicaria o risco de eles informarem os talibãs sobre a presença dos americanos.

As únicas opções eram deixá-los partir ou matá-los, apesar de serem civis desarmados. Um dos soldados votou pela primeira opção, outro pela segunda opção e o terceiro não se julgava em condições de decidir. Coube ao líder da operação o voto de minerva.

O argumento pela execução dos camponeses era forte, pois os americanos estavam em território inimigo e tinham o direito de tomar qualquer medida para salvar suas vidas. Era uma decisão militar óbvia, pois deixar os camponeses livres seria extremamente arriscado.

Contrariando a obviedade da decisão militar de matar os camponeses, o líder da operação optou por soltá-los. Por mais que soubesse que a decisão militar mais acertada seria a execução, sua consciência lhe dizia que não era correto matar a sangue-frio aqueles homens e o garoto.

No enfrentamento de um dilema moral, prevaleceu a voz da consciência ante o raciocínio militar. Mas a decisão lhe custou caro.

Após liberarem os camponeses, os americanos foram cercados pelo exército talibã. Em um sangrento combate, apenas o líder do grupo que deu o voto de minerva sobreviveu, seriamente ferido. Além dos três soldados, os talibãs também abateram um helicóptero americano que tentava resgatar o grupo, matando 16 oficiais que estavam a bordo.

Mais tarde e já a salvo, o líder do grupo manifestou um imenso arrependimento quanto ao seu voto decisivo de não matar os pastores e que representou a sentença de morte dos seus companheiros. Todavia, em um dilema moral, as consequências não parecem tão claras quanto a que se vê após a decisão tomada.

O que tornou a decisão extremamente difícil foi a incerteza ante o que poderia acontecer caso soltassem os pastores. Eles silenciariam ou alertariam os talibãs? Se soubesse com antecedência que seriam delatados, o líder da operação ouviria a voz da sua consciência sobre o fato de ser errado matar um garoto e dois pastores indefesos e desarmados?

O caso relatado até agora não se passa do filme Sniper Americano. Ocorreu na guerra do Afeganistão, e o dilema moral enfrentado pelos soldados americanos foi analisado de maneira profunda à luz da filosofia na obra "Justiça", de Michael Sandel.

Sniper Americano poderia ser um belo filme caso enveredasse por esta senda. No filme, baseado em fatos reais, Chris Kyle, interpretado por Bradley Cooper, é um atirador de elite do exército americano. Sua mira é imbatível, acerta alvos com precisão e a longas distâncias. Dá cobertura ao exército nas operações abatendo supostas ameaças. A decisão de atirar é sua, pois precisa antever o perigo.

Por duas oportunidades enfrenta um dilema moral similar ao caso dos pastores afegãos, tendo em sua mira um garoto e uma freira. Precisa pensar rápido. Serão ameaças? É correto atirar? E se não representarem perigo? Matar em vão?

Infelizmente o filme não se aprofunda nesse debate. Prefere explorar um patriotismo vazio, destacando o clichê do herói versus vilão, como se na guerra uma das partes tivesse razão. A história é sempre contada pelos vencedores, mas no cinema não precisa ser assim.

O diretor Clint Eastwood tinha em mãos argila para esculpir algo similar a seus sucessos anteriores, como Os Imperdoáveis (1992) e Menina de Ouro (2000). Até o duelo entre o atirador de elite afegão e o sniper americano pouco empolga.

Em Circulo de Fogo (2001), que se passa na 2ª guerra mundial, há uma inteligente disputa de atiradores de elite bem melhor construída e agradavelmente tensa, com personagens históricos mais lendários e interessantes que o sniper americano.

Para quem nunca assistiu filmes de guerra como Apocalipse Now (1979), de Francis Ford Coppola, Glória Feita de Sangue (1957) e Nascido para Matar (1987), ambos de Stanley Kubrick ou Platton (1987), de Oliver Stone, Sniper Americano até que rende uma forçada nota 7.0.

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