Uma tourada em Pamplona, pararará ti BUM!

Por Raul Lopes, em CRÔNICA

Uma tourada em Pamplona, pararará ti BUM!

13 de Outubro de 2018 às 18:16

No último dia 10 de julho completou 20 anos do evento de sequestro e morte de Miguel Ángel Blanco, vereador pelo Partido Popular pela pequena cidade de Ermua, no País Basco. O ato ocorreu nove dias após a libertação do agente penitenciário José Antonio Ortega Lara, mantido como refém do grupo ETA, sigla em basco de Euskadi ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade.

Pouco depois do sequestro de Miguel, o ETA deu um ultimato de 48 horas ao governo conservador de José María Aznar para que aceitasse o reagrupamento no País Basco de seus 500 presos espalhados pelo país.

No dia 12 do mesmo mês e ano, aluguei um carro (Renault Clio) na cidade de Salamanca-ESP para conhecer a festa de San Fermín que acontecia na cidade de Pamplona - comunidade autônoma de Navarra no norte da Espanha.

San Fermín é a festa em que touros enfurecidos são soltos nas ruas da cidade e uma porção de corajosos e/ou borrachos saem correndo e batendo nos animais com jornais em forma de espada, pois durante o percurso é proibido machucar o touro, apesar do paradoxo de na sequencia da corrida ter que humilha-los e mata-los numa cerimônia na plaza de toros.

Durante todo o dia 12 de julho a Espanha estava aflita para saber sobre a aceitação ou não de José Maria Aznar sobre a remoção dos presos do ETA. Na mesma tarde, recordo-me de chegar à cidade de Pamplona e logo tentar comprar o ingresso para a chegada dos toros na plaza de toros do dia seguinte (13/07), pois, para aquele dia, os toros já haviam corrido pelas ruas e sacrificados pelo magistral toureiro.

Com uma fila quilométrica para compra de ingresso acabei sobrando e dediquei o dia a conhecer a cidade e procurar um local para dormir. Depois de alguns contatos achei um quarto de apartamento na cidade vizinha de San Sebastián, cidade litorânea no golfo de Biscaia.

Para que pudesse entrar no apartamento, que era compartilhado com outros turistas de diferentes nacionalidades, deveria encontrar com uma moça numa pequena praça em frente ao AP, mesmo sem celular (ainda não existia), não foi difícil encontrar a guardiã das chaves e logo tratei de entrar e me acomodar em um dos três quartos da habitação.

Lá fora o clima era tenso, a cidade de San Sebastián fica no País Basco, berço do ETA, e todos ainda aguardavam remoção de Miguel ou a transferência dos presos.

Sem dormir direito, pois tinha receio de perder o horário de pegar a carretera e regressar à Pamplona para assistir a corrida de touros, recordo que por volta de 4 da manhã, ouvi barulhos de fogos de artifício nas redondezas, logo imaginei que ainda não havia me livrado dos foliões da festa de San Fermín.

Despertei por las cinco horas e num salto já estava no Renault Clio com destino à Pamplona ansioso para assistir os encierros. Ao aproximar-se do local da festa, me chamou a atenção um grande numero de pessoas de roupas brancas e lenço vermelho amarrado no pescoço (traje característico do evento) caminhando no sentido contrário ao epicentro da concentração. Sem entender, tratei de  perguntar a um folião o que havia ocorrido, que de forma entristecida me respondeu: No hay fiesta, Miguel muerto. A festa acabou e a Espanha parou.

A morte de Miguel Ángel Blanco foi o começo do fim do ETA. Em maio deste ano (2018), na cidade de Cambo-les-Bains na região francesa do País Basco, houve a cerimônia da dissolução do último grupo armado da Europa, o Euskadi Ta Askatasuna.

* posteriormente descobri pelos noticiários que os fogos ouvidos em San Sebastián na verdade eram estampidos de bombas.

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