Vai Ministra

Por Raul Lopes, em OPINIÃO

Vai Ministra

07 de Fevereiro de 2018 às 14:53

Contar uma história é certamente algo essencial, mas as histórias que me agradam são aquelas que têm uma certa dose de abstração, que são mais intuitivas do que cerebrais. O verdadeiro poder do cinema, para mim, não reside no simples fato de contar um história, mas na maneira com ela é contada, na capacidade que se tem de criar um mundo, uma atmosfera ou uma sensação na qual o espectador se veja imerso. Quando Godard fala do visível e do invisível, é exatamente isso: o cinema tem o poder de pintar o invisível

 

O trecho acima foi retirado de uma entrevista do diretor de cinema David Lynch para o crítico cinematográfico Laurent Tirard, mas bem que poderia ser um comentário sobre o vídeo produzido pela indicada do presidente Michel Temer para assumir o Ministério do Trabalho.

 

Já assisti mais de uma vez a produção midiática da “doutora Brasil” e ainda me coloco em xeque quando tento categorizar se a curiosa “obra de arte” seria um caso para recorrermos à comentários de surrealistas como David Lynch ou expressões artísticas daqueles que se utilizam da abstração para se comunicar como Jackson Pollock ou Wassily Kandinsky.

 

De uma forma ou de outra eu não sei o que se passa na cabeça de quem produz algo como aquele vídeo. O curta metragem tem um tom ameaçador que atinge a qualquer um que assiste, algo que encontramos em diretores com Haneke, Von Trier ou Lanthimos. A intenção é verdadeira, a interpretação dos atores é perfeita, todos eles, principais ou coadjuvantes, desempenharam de forma domesticada o papel.

 

Quanto à direção, é algo primoroso, comparado a Sir Alfred Joseph Hitchcock e seu Festim Diabólico, pois, assim como o clássico do diretor ingês, o curta não possui edição, foi filmado em take longo e sem cortes. A locação me faz lembrar a paradisíaca cidadela de Saint-Tropez localizada na Provence-Alpes-Côte d'Azur, como no filme La piscine de Jacques Deray que conta com a interpretação do galã francês Alain Delon.

 

Para finalizar minha leitura sobre essa pequena “obra de arte”, confesso que o conteúdo é algo que até hoje tento entender.

 

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