Via Circus

Por Márcio Barros, em CONTOS

Via Circus

11 de Junho de 2019 às 14:33

No cruzamento da avenida Miguel Rosa com a Joaquim Ribeiro, um acrobata se equilibra numa corda pendurada entre dois postes, enquanto faz malabarismos com paletas flamejantes. No sinal ao lado, um equilibrista com pernas de pau gigantes cospe fogo para o ar enquanto cambaleia sobre faixa de pedestre. Na platéia, motoristas enlatados em carros enfileirados assistem entediados às atrações enquanto zapeiam os celulares.

Entre eles um homem vestido de palhaço e seu filho de seis anos espremem-se dentro de um chevete azul. Eram três horas da tarde. O palhaço se apresentaria logo mais no colégio do filho. Dois homens numa moto, que pareciam surgir de um globo da morte, param ao lado do chevete, o de trás aponta uma pistola para o palhaço que reage assustado, intempestivo. Um disparo, seguido de um grito de horror e desespero, rompe o equilíbrio velado daquela tarde de junho. Um manto vermelho de sangue escorre pelo vidro da frente do chevete, cobrindo cerimoniosamente o espetáculo de desolação e agonia dos artistas esmolambados.

 

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