Vidas Amargas (EUA, 1955)

Por Leandro Lages, em CINEMA

Vidas Amargas (EUA, 1955)

06 de Julho de 2016 às 04:27

Ser bom ou mau é da natureza humana ou decorre de uma escolha nossa?
Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, o homem nasce mal e não sabe viver em sociedade, por isso há necessidade de regras impostas por um Estado autoritário para tornar possível a convivência social.
Já a Bíblia demonstra o homem nascendo puro e bom, sendo criado por Deus para viver no Jardim do Éden, mas termina corrompido por seus desejos e instintos. E a maldade humana teria início com o sentimento de inveja que Abel desperta em Caim, que mata o irmão e foge para uma região A LESTE DO ÉDEN.
Todo este contexto está presente na obra A LESTE DO ÉDEN, do escritor californiano John Steibeck, vencedor dos prêmios Nobel e Pulitzer de literatura, mais conhecido por sua arrebatadora obra “As vinhas da ira”, de 1939.
Lançado em 1952, “A Leste do Éden” rapidamente se tornou um épico da literatura mundial, culminando com a sua adaptação para o cinema em 1955 com o título de VIDAS AMARGAS.
Não se pode dizer que seja uma adaptação fiel da obra, melhor dizer que se trata de um filme produzido com base em alguns fatos do livro.
A narrativa se passa antes da 1ª Guerra Mundial, na Califórnia, uma das mais belas regiões americanas, representação viva do Éden, paraíso para onde muitos migram em busca de boas condições de vida nas terras férteis, clima agradável e pujante economia.
Steinbeck escreve com propriedade sobre o tema, pois morou na região e trabalhou nas mais variadas atividades, desde trabalhos braçais na construção de estradas e campos agrícolas, além de estudar em Stanford e trabalhar como jornalista.
“A Leste do Éden” reconstrói o confronto bíblico entre Caim e Abel, personificados por dois irmãos: o violento Charles e o dócil Adam, ambos em constante conflito.
O maior conflito entre eles surge quando socorrem Cathy, uma mulher brutalmente espancada e jogada ao relento. Adam casa com ela e tem dois filhos: Caleb e Aron, que mais uma vez revivem Caim e Abel. O filme inicia com estes irmãos já adultos.
A personagem mais emblemática da obra é Cathy, talvez idealizada para ser a própria serpente do paraíso. A sua história é contada no livro desde a infância. A narrativa sobre ela inicia assim: “Acredito que existem no mundo monstros nascidos de pais humanos”.
Cathy é um verdadeiro monstro desde a infância. Fria, cruel, sorrateira, dissimulada, paciente e maquiavélica, maldade em estado puro. Tudo isso revestido por uma linda, angelical e indefesa aparência.
Ao descrever a personagem, Steinbeck, menciona que ela “teve, desde o início, o rosto da inocência. Foi uma menina bonita e tornou-se uma mulher bonita. Sua voz era suavemente rouca. Ainda criança possuía uma qualidade que fazia as pessoas olharem para ela, desviarem o olhar e voltarem o olhar, perturbadas com algo estranho. Movia-se silenciosamente e falava pouco, mas não podia entrar num aposento sem levar todo mundo a se virar para ela”.
Suas atitudes assombram cada vez que se lê uma decisão que acaba de tomar e como calculou friamente todas as consequências. Conta-las aqui dissolveria todo o deleite que a leitura da obra proporciona.
É possível comparar Cathy a outras personagens femininas cruéis da literatura mundial.
Tem a frieza e indiferença de Luzia Silva, a “Teiniaguá” da obra "O Tempo e o Vento", de Érico Veríssimo, e o seu olhar languido enquanto presencia o enforcamento de um escravo apenas para ouvir o estalar dos ossos do seu pescoço no instante da morte.
Poderia, também, incorporar a sensual e dissimulada “Chilenita”, em Travessuras da Menina Má, de Mário Vargas Llosa e a maneira como ela arrebata os corações masculinos apenas para usufruir de algum interesse.
A maldade desde o nascimento pode ser presenciada no filme “Precisamos falar sobre Kevin” (2012), um drama familiar emocionalmente forte baseado em fatos reais e que reflete as consequências da falta de diálogo entre pais e filhos.
Assim como ocorre com as grandes obras, difícil permanecer indiferente após navegar na narrativa suave das quase 700 páginas do livro.
O filme pode ser assistido em pouco menos de 2h, um bom divertimento e uma experiência a qual o leitor se submete apenas para saber como uma obra que lhe marcou foi adaptada para o cinema.
E sobre o fato de saber se somos bons ou maus desde o princípio, melhor se contentar com a seguinte frase do livro: “É um dos triunfos do ser humano o fato de ele poder saber de alguma coisa e ainda assim não acreditar nela”.
Ser bom ou mau é da natureza humana ou decorre de uma escolha nossa?
Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, o homem nasce mal e não sabe viver em sociedade, por isso há necessidade de regras impostas por um Estado autoritário para tornar possível a convivência social.
Já a Bíblia demonstra o homem nascendo puro e bom, sendo criado por Deus para viver no Jardim do Éden, mas termina corrompido por seus desejos e instintos. E a maldade humana teria início com o sentimento de inveja que Abel desperta em Caim, que mata o irmão e foge para uma região A LESTE DO ÉDEN.
Todo este contexto está presente na obra A LESTE DO ÉDEN, do escritor californiano John Steibeck, vencedor dos prêmios Nobel e Pulitzer de literatura, mais conhecido por sua arrebatadora obra “As vinhas da ira”, de 1939.
Lançado em 1952, “A Leste do Éden” rapidamente se tornou um épico da literatura mundial, culminando com a sua adaptação para o cinema em 1955 com o título de VIDAS AMARGAS.
Não se pode dizer que seja uma adaptação fiel da obra, melhor dizer que se trata de um filme produzido com base em alguns fatos do livro.
A narrativa se passa antes da 1ª Guerra Mundial, na Califórnia, uma das mais belas regiões americanas, representação viva do Éden, paraíso para onde muitos migram em busca de boas condições de vida nas terras férteis, clima agradável e pujante economia.
Steinbeck escreve com propriedade sobre o tema, pois morou na região e trabalhou nas mais variadas atividades, desde trabalhos braçais na construção de estradas e campos agrícolas, além de estudar em Stanford e trabalhar como jornalista.
“A Leste do Éden” reconstrói o confronto bíblico entre Caim e Abel, personificados por dois irmãos: o violento Charles e o dócil Adam, ambos em constante conflito.
O maior conflito entre eles surge quando socorrem Cathy, uma mulher brutalmente espancada e jogada ao relento. Adam casa com ela e tem dois filhos: Caleb e Aron, que mais uma vez revivem Caim e Abel. O filme inicia com estes irmãos já adultos.
A personagem mais emblemática da obra é Cathy, talvez idealizada para ser a própria serpente do paraíso. A sua história é contada no livro desde a infância. A narrativa sobre ela inicia assim: “Acredito que existem no mundo monstros nascidos de pais humanos”.
Cathy é um verdadeiro monstro desde a infância. Fria, cruel, sorrateira, dissimulada, paciente e maquiavélica, maldade em estado puro. Tudo isso revestido por uma linda, angelical e indefesa aparência.
Ao descrever a personagem, Steinbeck, menciona que ela “teve, desde o início, o rosto da inocência. Foi uma menina bonita e tornou-se uma mulher bonita. Sua voz era suavemente rouca. Ainda criança possuía uma qualidade que fazia as pessoas olharem para ela, desviarem o olhar e voltarem o olhar, perturbadas com algo estranho. Movia-se silenciosamente e falava pouco, mas não podia entrar num aposento sem levar todo mundo a se virar para ela”.
Suas atitudes assombram cada vez que se lê uma decisão que acaba de tomar e como calculou friamente todas as consequências. Conta-las aqui dissolveria todo o deleite que a leitura da obra proporciona.
É possível comparar Cathy a outras personagens femininas cruéis da literatura mundial.
Tem a frieza e indiferença de Luzia Silva, a “Teiniaguá” da obra "O Tempo e o Vento", de Érico Veríssimo, e o seu olhar languido enquanto presencia o enforcamento de um escravo apenas para ouvir o estalar dos ossos do seu pescoço no instante da morte.
Poderia, também, incorporar a sensual e dissimulada “Chilenita”, em Travessuras da Menina Má, de Mário Vargas Llosa e a maneira como ela arrebata os corações masculinos apenas para usufruir de algum interesse.
A maldade desde o nascimento pode ser presenciada no filme “Precisamos falar sobre Kevin” (2012), um drama familiar emocionalmente forte baseado em fatos reais e que reflete as consequências da falta de diálogo entre pais e filhos.
Assim como ocorre com as grandes obras, difícil permanecer indiferente após navegar na narrativa suave das quase 700 páginas do livro.
O filme pode ser assistido em pouco menos de 2h, um bom divertimento e uma experiência a qual o leitor se submete apenas para saber como uma obra que lhe marcou foi adaptada para o cinema.
E sobre o fato de saber se somos bons ou maus desde o princípio, melhor se contentar com a seguinte frase do livro: “É um dos triunfos do ser humano o fato de ele poder saber de alguma coisa e ainda assim não acreditar nela”.
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