We are all socialists now

Por Leandro Lages, em OPINIÃO

We are all socialists now

13 de Setembro de 2018 às 22:35

Em fevereiro de 2009, a revista Newsweek estampou em sua capa a frase que intitula o presente texto.

 

À época o mundo vivia os efeitos de uma crise creditícia, com epicentro nos EUA, causando furor com a notícia da quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008.

 

A crise assombrava por eclodir em uma potência que galopava sob as frouxas rédeas de um liberalismo que servia de exemplo ao mundo. Todas as análises econômicas demonstravam a perfeição de um modelo que promovia o derretimento estatal.

 

Quanto menor o Estado, mais ágil na corrida rumo ao desenvolvimento. A economia se tornava inexpugnável sem a intervenção estatal. E os modelos socialistas jaziam inertes sob os escombros do muro de Berlim.

 

A crise partiu de seu elemento mais forte: o crédito, força motriz do consumo e mola do crescimento econômico.

 

Crédito envolve confiança e tempo, representando a troca de um valor presente por um valor futuro. Receber no presente e adimplir no futuro. O credor confia no recebimento do valor, principalmente se o crédito vem associado a uma garantia. E ao expressar o crédito por meio de documentos, o credor pode negociá-lo com terceiros.

 

Os EUA experimentaram uma grande profusão de crédito, avidamente devorados pelo mercado consumidor. Os papéis que representavam esses créditos foram objeto de negociação com outros países e instituições financeiras, originando mais dinheiro a ser distribuído no mercado de consumo.

 

O crédito gerava mais crédito e se multiplicava em progressão geométrica tal qual o crescimento embrionário. E o Estado assistia passivo à gestação de um verdadeiro leviatã.

 

Na cobrança da fatura constatou-se o impensável. O mercado consumidor utilizou grande parte dos créditos no pagamento de outras dívidas e as garantias outorgadas eram insuficientes. Resultado: INADIMPLÊNCIA.

 

Os papéis que expressavam as dívidas estavam espalhados por todo o mundo tal qual rastilho de pólvora rapidamente consumida por essa pequena faísca de inadimplência. Em instantes o mundo parecia explodir.

 

As bolsas de valores mundiais foram o termômetro da crise. Desabaram rapidamente em dias consecutivos, pois o ilusório mercado de capitais sempre afere as perspectivas futuras das companhias.

 

Sem o crédito facilitado de outrora, o viés de crescimento das companhias era outro. Precisava ser revisto para baixo, pois o consumo diminuiria. O corte das despesas atingiria também o emprego, e menos emprego significa menor consumo e novas projeções de redução de lucros.

 

O mundo assistia a uma verdadeira inversão, como se um balão que lentamente se encheu de ar começasse a esvaziar rápido e loucamente sem que a mão invisível do mercado conseguisse controlá-lo.

 

Coube ao braço do Estado estancar a sangria com uma forte injeção de recursos. O crash de 1929 já ensinara que pelo menos em situações de crise o Estado deve fazer-se presente. O mundo rapidamente lembrava essa esquecida lição.

 

Logo o velho Estado começou a agir, principalmente através de uma tributação reduzida para produtos ligados ao consumo a fim de reanimar a economia.

 

A diminuição das taxas de juros tornou mais barato o crédito utilizado no mercado, inibindo assim uma queda de consumo.

 

Outro remédio utilizado consistiu na injeção de crédito junto às economias combalidas. Esse crédito derivou da emissão de títulos públicos que representam endividamento do Estado, pois os títulos seriam resgatados no futuro com juros.

 

Para frear uma crise galopante o Estado cortou a própria carne: comprometeu sua arrecadação diminuindo alíquotas de tributos, reduziu taxa de juros e endividou-se.

 

Tudo isso ensionou ao mundo que em momentos de crise o que mais interessa é a solução, não importando se a receita é puramente capitalista ou se teremos que ser todos socialistas, tal como anunciou a capa da revista americana Newsweek.

 

Post Scriptum: escrevi esse texto no ano de 2009 por ocasião da crise creditícia mundial que assombrava o mundo. No aniversário de 10 anos da eclosão daquela crise, penso que ainda esteja bastante atual.

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