YOUTH (Itália, 2015)

Por Diego de Montalvão, em CINEMA

YOUTH (Itália, 2015)

02 de Dezembro de 2015 às 21:15

"Close your eyes and see the skies are falling"
Queens Of The Stone Age

Decerto não existe uma resposta única para o que nos torna vivos. Uns diriam que é o amor; outros uma busca de sentido. “O desejo é que nos mantém vivo” – afirma um dos personagens, um jovem ator hollywoodiano, que não soube se permanecer em evidência após seu grande sucesso. Este tema central de Youth é o que norteia a relação de 2 amigos octogenários em meio a crise e decadência  da terceira idade.

São muitas as armadilhas quando se discute a velhice. Poucos são os que conseguem fazê-lo sem cair nos lugares-comuns e sentimentalismos exagerados. O fato de este ser um tema recorrente nas artes em geral, estimulou a construção de um enredo mais trivial em Youth, porém não menos frívolo, onde as crises existenciais e recordações do passado dão lugar aos anseios que os protagonistas têm quanto ao futuro.

A escolha por não se ater a conflitos psicológicos é o mote do filme. Os protagonistas sublimam suas memórias em seus planejamentos de vida, ou então em sua desgraça, aqui representada por suas próstatas: “Hoje eu dei uma poderosa mijada, há tempos eu não ficava tão feliz”. Este enredo ameno segue e reflete-se em outra frase que Mick Boyle (Harvey Keitel), referindo-se à amizade com Fred Belinger (Michal Caine), dispara: “Entre bons amigos só se falam coisas boas”.

Como força de argumento, um ambiente bucólico e poético serve de contraponto para os tradicionais cenários enclausurados usados para retratar a velhice. O filme foi rodado no Schatzalp Hotel, famoso sanatório que ambientou “A Montanha Mágica” de Thomas Mann. Em meio aos hóspedes encontra-se a Miss Universo, a quem os dois amigos a tratam como “Deus”, que os surpreende pelo seu intelecto; e um jogador de futebol argentino, canhoto, conhecido mundialmente e que hoje, dependente de uma muleta, tem devaneios de quando era o camisa 10 de sua seleção nacional. Estes personagens, entre outros, são retratados com um toque latino do diretor italiano, que tenta convencer o espectador de que tudo na vida é um misto de tragédia e comédia.

Esteticamente, Paolo Sorrentino construiu um filme muito dinâmico, com planos rápidos e fragmentados, sem comprometer a narrativa de muitas histórias que se desenrolam simultaneamente. Essa aparente superficialidade do enredo, quando dissipada em várias tramas dos personagens, poderia resultar em perda da carga emocional do filme. Isto não acontece pela força dos diálogos e pela complexidade dos figurantes, principalmente quando seus conflitos emocionais são ora ridicularizados, ora enobrecidos, de acordo com a grandeza que lhes são peculiares.    

O que resta para nós, humanos, frente à ironia que desorganiza a existência, é manter o desejo aceso, segundo a ótica do diretor, bem representado no plano final, quando Boylegesticula com as mãos o ato de filmar a vida. Para além, quando a morte estiver à espreita, não há porque se desesperar, pois não é justo resumir todo um passado vivaz e pulsante, neste momento de angústia que é próprio da passagem da vida para a morte.

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