Zelig (EUA, 1983)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Zelig (EUA, 1983)

27 de Julho de 2016 às 03:31

Existe um pensamento que diz que para sair de uma conversa e ganhar status de sujeito agradável e inteligente é só concordar com o outro. Como se a sua confirmação sobre determinado assunto massageasse e confortasse o ego do colega. Por outro lado, a discordância se apresenta como a mola propulsora da antipatia e do pedantismo.
Esse filme é sobre a história de Leonard Zelig (Woody Allen), um sujeito que desenvolveu um curioso habito de adquirir as características das pessoas que estivessem por perto. Explico.
Se Zelig estivesse próximo de um chinês, rapidamente começaria a apresentar traços orientais e suas feições mudariam radicalmente, por outro lado, se estivesse perto de pessoas obesas, em poucos minutos seria capaz de engordar 115 quilos.
Zelig é um camaleão social, uma pessoa que se utiliza da ‘técnica do espelho’ para deixar confortáveis aqueles que estão ao seu redor, com isso, Zelig se sentia mais protegido e inserido em qualquer contexto.
Zelig era um fenômeno, a verdadeira personificação do político. Mas por outro lado, Zelig era uma ameaça para muita gente. Para Ku Klux Klan, por exemplo, ele era odiado, pois poderia ser um judeu, um negro ou um índio numa só pessoa, sendo, portanto, uma ameaça tripla.
Mas quem é Zelig? O Zelig sem transformação. Deve haver uma essência, algo que o diferencie dos demais. Num diálogo com os médicos no início do filme podemos extrair uma pista:
- Leonard, porque assume as características das pessoas ?
- E seguro.
- Como assim é seguro?
- É seguro ser como os outros.
- Você quer se sentir seguro?
- Quero que gostem de mim.
O filme transcorre na forma de documentário, com pitadas de humor bem característico do diretor. Nessa esteira, acaba sobrando para a classe política, jornalistas, irlandeses, igreja católica e até para indústria cinematográfica.
Como de se esperar, Zelig se transforma num superstar, ditando moda, dança, jogos, brinquedos, atração de circo, tudo que a indústria americana faz com excelência. Zelig não queria isso, queria exatamente o contrário, queria apenas passar despercebido pelos inimigos e ser amado, mas o pobre Zelig nem se adapta nem é aceito, acaba sendo supervisionado pelos inimigos e permanece abandonado.
Nesse contexto, nosso protagonista encontra a Dra. Fletcher (Mia Farrow), uma médica psiquiatra que decide ajudar a torná-lo apto ao convívio social e durante o tratamento de muitos altos e baixos, Dra. Fletcher acaba por descobrir o antidoto que pode salvar o desorientado Zelig das múltiplas transformações, esse antídoto é um sentimento do qual ele é carente, algo que somente irá funcionar se for verdadeiro.
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