Azul é a cor mais quente (França, 2013)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Azul é a cor mais quente (França, 2013)

23 de Julho de 2014 às 23:50

Foi de amor droga mais que letal
quando não mata aleija faz esse temporal
Foi de amor
Não tem nem contra-indicação
dependendo da dose acelera e racha o coração
(Foi de amor – Nação Zumbi)

 

Muito se falou sobre o Azul é a cor mais quente. Um filme que ditou moda na ruas, o cabelo azul de Emma é um símbolo, um sinal, uma indicação. A questão é: realmente o filme faz jus a todo esse burburinho?

O roteiro é do franco-tunisiano Abdellatif Kechiche que também assina a direção do filme. A produção relata a vida de Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma colegial que vive num turbilhão diante da definição de sua sexualidade. Impulsionada pela literatura e relacionamentos fugazes, Adèle acredita no amor a primeira vista e vestida com esse sentimento encontra com Emma (Léa Seydoux), uma garota de cabelo azul, um pouco mais velha que chama sua atenção e a deixa literalmente atordoada.

O desenrolar da história não se resume à experiência homoafetiva da protagonista, independentemente da conotação erótica e da opção sexual dos personagens, Azul é a cor mais quente trata de amor do início ao fim. É um filme sobre encontros e apenas um desencontro.

O filme dura 3 (três) horas, aqui um destaque para o roteiro e a direção que devido ao encaixe perfeito, a longa duração não torna o filme enfadonho. Abdellatif Kechiche se utiliza muito dos closes, fecha o plano principalmente na boca, o que faz perceber o silencio que precede a fala. A trilha sonora é pontual e vai do folclore à música eletrônica. Sobre a trilha, um detalhe interessante logo no início é quando Adèle cruza com o músico de rua que toca um instrumento percussivo (Hang drum), Adèle ouve, e a música acompanha a protagonista fazendo parte das cenas seguintes. Por esses e outros truques o que o filme parece mais um revezamento de cenas emendando uma na outra mantendo o espectador ligado.

As atrizes desempenham um brilhante papel, não é a toa que ambas, juntamente com o filme, ganharam o prêmio máximo do festival de Cannes de 2013. Azul é a cor mais quente não merece ser marcado pelas cenas eróticas, afinal essas cenas representam o que tem de mais falso no filme. As atrizes em depoimento demonstraram que o filme lhes deixaram sequelas.

Em maio, antes da premiação de Cannes, Léa e Adèle disseram ser heterossexuais e que haviam sofrido nas mãos do diretor, com frases como: “Eu me senti como uma prostituta”, “Ficamos diante de Kechiche e da equipe técnica repetindo incessantemente cenas de sexo, sete dias por semana, dez horas por dia.” Léa contou que o sexo que praticaram não era 100% real e chegaram a usar uma prótese.

Tirando as  farpas entre as atrizes e o diretor e a falsidade do filme, o que sobra é o sentimento, as ótimas atuações e a segura direção. Azul é a cor mais quente não é um clássico, a título comparativo, não atinge a genialidade do vencedor de Cannes do ano anterior (Amour – Michael Haneke - AUS/2013), mas descobriu Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.

Respondendo a questão inicial, o filme realmente mereceu o todo o burburinho causado, mas a questão esfriou e a expectativa fica com relação as atrizes e suas novas atuações que correm o risco de ficarem estigmatizadas. Veremos.

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