Carol (UK, USA, 2015)

Por Leonel Veloso, em CINEMA

Carol (UK, USA, 2015)

17 de Fevereiro de 2016 às 22:13

Seguindo o fluxo dos filmes indicados ao Oscar, defrontei-me, a princípio, com boas propostas. Dentre algumas mais observáveis, preferi iniciar o percurso por uma obra baseada em um homônimo livro e originária de um nome forte, simples e singelo: Carol. Já reitero que, aqui, pouca atenção, ou quase nenhuma, será dada à sinopse, direção, som ou produção. Dedicar-me-ei à interpretação específica de uma atriz em especial, talvez ela a principal razão de me sentir seduzido ao deleite de tal película. E a ela presto minha simples homenagem: Cate Blanchett. Na verdade, e com verdade dupla nisso, é de Carol Aird que me deleitarei.

Já no cartaz indicativo do filme, delicio-me com uma mulher muito atraente. Apesar de uma mera foto, seu olhar parece profundo e perverso, mas, ao mesmo tempo, triste e soturno. De contornos avermelhados em sua vestimenta, pareço estar confuso quanto à idade daquela linda mulher, questão esta meramente irrelevante no contexto da obra. E é com grande expectativa que aqui me encontro. Até então, as luzes do cinema nem haviam se apagado, mas o fantasiar daquela imagem já me transportava a um delicioso alento.

Nos primeiros segundos de câmera dinâmica, ainda ausentes de discurso oral, vejo uma bela mulher, esbanjando segurança e experiência, sentada em uma mesa de jantar igualmente atraente, enquanto traga elegantemente um apessoado cigarro com sua mão direita. Tal cena, é bom que se frise, poderia durar horas apenas com esta imagem. E sem falar uma palavra, vejo o olhar profundo que Carol consegue penetrar em quem deseja, passando, no minuto seguinte, a um refutar de pálpebras àqueles que não lhe merecem apetecimento. O nobre, igualmente sensual, é o minuto de início de sua fala e discurso. Parece uma oratória, mesmo sendo dita em hipofonia e tendo apenas o ouvido de outra bela mulher como deleite. Com o decorrer dos minutos, permaneço em profundo encantamento com sua marcha elegante e seu olhar despreocupado com tudo aquilo que se passa fora do seu campo visual. Parece afungetar-se de algo para permitir que outros possam viver e acenar com saudade.  

Os contornos da película se seguem, mas o centro de tudo permanece nela: Carol. É, literalmente, o centro de todas as atenções. Fato este, é bom que se diga, fundamental não só para ela, como para aqueles que a rodeiam. Ela parece querer ter o controle das horas, dos movimentos, da situação e, para isso, precisa estar impecável e focal. Parece que o seu desejo por atenção é tão extremo que beira o insaciável, mesmo demonstrando certa indiferença às emoções que suporta. Monopolizar conversas ou dramatizar simples histórias são, portanto, meios que ela utiliza como ninguém, deixando-nos, é bem verdade, cada vez mais tentados. É fácil dizer que Carolconsegue realizar tais desejos com maestria, como algo intrínseco a sua própria personalidade. Difícil, talvez, seja entender que, apesar de tudo, ela sofre e permite ao outro sofrer junto com ela, em uma espécie de masoquismo compartilhado, um sofrer prazeroso.

Talvez por isso seja ela tão atraente. Tem, com maestria, a capacidade de seduzir sem ser inadequada. Hipnotiza homens, mulheres, jovens ou mais experientes, flertando conversações indiscriminadamente. Falando assim, até parece que Carol carece de defeitos. Mas ela os exibe, talvez, na superficialidade com que denota suas emoções, parecendo talvez distanciar-se do afeto pela simples ausência de desejo em exibí-lo de uma forma mais clara. Ela usa, a bel prazer, sua aparência física para chamar a atenção sobre si própria. E o faz consistentemente. Talvez seja sua forma de se exibir perante a multidão que a torna tão especial, evidenciando-se única.

Em seus relacionamentos, Carol talvez os trate mais íntimos do que realmente sejam. Por isso, é de sua torpe fugir e alçar voos sem que ninguém perceba o ruído mais discreto.

É com tal brilho e fervor que Carol parece desfilar sempre impecável nos quase noventa minutos de câmeras e sons. É um algo tão impressionável a ponto de deixar uma tal Thérese menos perceptível do que realmente mereceria. E esta última é tão linda, atraente, inteligente, bela, interessante, que só um outro texto para eu aqui ousar descrevê-la ..  

Voltar