Cronicamente Viável: Os Oito II

Por Raul Lopes, em CRÔNICA

Cronicamente Viável: Os Oito II

04 de Fevereiro de 2016 às 22:01

Nota

No Direito, dizem que a testemunha é a “prostituta” das provas, porque é baseada na palavra humana e devido a falibilidade humana é sujeita a mutações, na maioria das vezes devido ao tempo do ocorrido, as falhas de memória e aos acontecimentos posteriores, que mesmo sem querer, passam a fazer parte do fato ocorrido.

Segue aqui um complemento à Crônica: Os Oito, pela visão do meu amigo Flávio que é personagem e testemunha ocular do post anterior. Como bem dito por ele: “Raul, o acerto preciso não é meu nem seu, nunca será meu nem seu, mas espiritualmente nós dois sabemos”. Assim são os fragmentos.

 

O retalo

Conhecendo as biografias de pessoas com histórias tão fortes como Rimbaud e Jim Morrison, já me convenci de que nós nascemos e morremos várias vezes numa mesma existência neste planeta.

A primeira vez que morri foi aos 14 anos, quando me mudei de Teresina pra Fortaleza.

Nesta primeira vida, tive a enorme felicidade de acompanhar, mesmo sendo uma criança ou pré-adolescente, a era de ouro dos shows do Verdão; muitas vezes como tios e primos mais velhos e outras com um amigo de quem falo neste texto, mais abaixo.

Eu pude ver a Rita Lee alçando voo, presa por cabos de aço, enquanto tocava flauta na turnê Flerte Fatal; Roger do Ultraje cantando “Pelado” vestindo apenas uma cueca; Lulu Santos numa mega egotrip na época do Auxílio Luxuoso; Paralamas lançando o disco Selvagem (neste eu tinha apenas 9 anos); e ainda Engenheiros, Paralamas de novo etc.

A minha maior lacuna é não ter ido assistir ao RPM na turnê do Rádio Pirata.

Porém tenho orgulho de ter ido encontrar os Titãs no auge do Go Back, tocando Marvin, e, no ano seguinte, presenciei o show da turnê Õ Blésq Blom, de que eu falo agora, com muita honra e orgulho,  para os leitores do Cinema Entrerios, Vivi tarde oníricas perambulando pelo centro de Teresina, perto da Rua Campos Sales, por onde morava Dona Louzinha, avó do meu querido amigo Raul Lopes Neto.

A gente sonhava muito, e vivia um êxtase de ansiedade quando chegava o dia de ir ao Verdão.

Numa cidade com apenas dois canais de tevê, antes da MTV e da Internet, o coração de dois garotos loucos por música e totalmente bombardeados pelo rock nacional, ir ver os Titãs em 1990 era como hoje assistir ao Paul no Madison Square Garden.

Só que naquela tarde fomos ao Rio Poty Hotel na qualidade de crianças encaminhadas por um dos patrocinadores, a Babylândia, coisas de quem tem pais que se comovem e mexem seus pauzinhos para realizar os sonhos dos filhos.

Fomos recebidos na recepção por um sujeito magro que nos disse: “Eles estão de dois em dois em cada quarto. Vocês querem falar com quem ?”

Mas não houve necessidade de escolher.

Brito passou. “Pode me dar um autógrafo ?”. Resposta: “Só se for rápido.”

Fromer passou e fez de conta que não nos ouviu.

Nando passou, sorriu e foi super carinhoso conosco.

Acabou a timidez e fomos pra piscina, recebidos com sorrisos e brincadeiras de Belotto, que me chamou a atenção pelo tamanho das argolas na orelha.

Perguntei por Miklos e Branco disse que ele estava dormindo.

Arnaldo vestia uma camiseta com a capa do Cabeça Dinossauro estampada.

Era como se eu estivesse entre Jagger, Richards, Wood ...

De repente alguns entram na água e 7 dos 8 Titãs começam a falar na nossa frente sobre vendagem de disco e repetiram o nome Paralamas uns três vezes.

Claro que eu e o Raul não entendíamos nada de nada, mas ficamos abismados com a intimidade que alcançamos, decerto por causa da nossa aparência de total inocência, totalmente inofensivos.

Lembro do Charles Gavin, com o sotaque paulistano muito forte, bater boca com Brito.

Nas fotos aparecem minha caneta toda azul que minha prima tinha trazido da Disney.

A primeira música do show foi “Miséria”. O som caiu lá pela décima música e Branco brincou com a plateia.

Dias depois dei cópias das fotos pro meu amigo adolescente e aprendiz de violão André de Sousa, que as colocou no guarda-roupa.

Como os Titãs estavam de sunga, meu amigo Ostiga até hoje diz que eu e o André trocávamos fotos de homem pelado.

Por Flávio Stambowsky Nogueira
Colaborador

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