Democracia ou a Morte da Música?

Por Erick Miranda, em MÚSICA

Democracia ou a Morte da Música?

15 de Outubro de 2018 às 19:38

Algum dia na vida você viu uma entrevista, foto, ou imagem de Deep Watch, Milos Stavos, Allysa Nelson, Caro Utobarto ou Heinz Goldbatt? Lógico que não, pois eles não existem, mas são muitíssimo “famosos” e têm suas músicas enormemente executadas no Spotify. Saiba que eles fazem parte de um grupo de mais ou menos 50 artistas que geram para esta empresa mais de 3 milhões de dólares em royalties, segundo uma denúncia feita pelo site Music Business Worldwide. Hoje em dia não é raro vermos pessoas por aí bradando que o Streamings democratizou a música, que basta pagar algo como R$ 16,90 por mês e está tudo certo, você tem milhões de músicas nas suas mãos e o problema da indústria da música está resolvido, mas certamente quem fala isso não tem a mínima ideia de quem e como os artistas estão sendo remunerados, ou como esse dinheiro é distribuído. O mundo dos Streamings, assim como a “democrática” internet, tem um lado muito mais obscuro do que muitos imaginam.

A companhia em questão paga para que músicos e produtores componham as músicas, inventa nomes para artistas fictícios, como se estes fossem genuínos, só que os royalties não são pagos a nenhum músico, a grana vai direto para empresa de quem os criou, numa prática muita saudável, limpinha e transparente. Esse tipo de artifício não é uma novidade, pois gravadoras também criavam artistas fictícios. A diferença é que antes você podia ou não comprar seus discos, agora eles estão escondidos em playlists e não te dão muita possibilidade de escolha.

Através de uma busca rápida na internet, você encontra serviços que impulsionam o numero de plays de artistas em qualquer plataforma, ou seja, aquele(a) artista brasileiro(a) que está bombando, com uma suposta carreira internacional, ao que tudo indica está usando esse artifício. As playlists de “mais tocadas” também são uma furada. Basta contratar empresas como Streamify, Streampot e Fiverr, onde pagou U$ 5,00 “ganha” 1.000 Plays; pagando U$ 300,00 consegue 200.000 Plays; ou por módicos U$ 2.250 sua música tem 2 milhões de plays. Fácil assim, fora o preço que se paga para entrar em Playlists “populares” que ficam tocando intermitentemente, conhecido atualmente por jabá 2.0, outra armação para ficar “famoso” nesse novo mundo, que só está interessado em likes, curtidas e plays.

Agora preste atenção nos números de uma das empresas de streaming, e tente não se impressionar: são 140 milhões de usuários pelo mundo; 70 milhões pagam pelo serviço, sendo que apenas 10% das músicas mais tocadas arrecada 99% de todos os royalties. Quanto cada artista ganha por execução também é vexaminoso, pois eles recebem menos de meio centavo de dólar por cada execução de sua música, ou seja, ele precisaria que uma música sua fosse executada 1,1 milhão de vezes para que eles recebam o equivalente a um salario mínimo nos EUA (U$ 1.105,00 em média). 

O que dá para entender é que esses serviços agem com muito pouca clareza e remuneram pessimamente os artistas. Se isso é democratizar o mundo da música, eu não sei o que é destruí-lo. Muitos artistas e selos foram resistentes a essas práticas abusivas, mas aos poucos foram ficando sem saída e infelizmente foram obrigados a disponibilizar seus discos nesse mercado tão nefasto.

A única conclusão que podemos ter é que a internet, que muita gente sonhou ser um espaço democrático e de liberdade, hoje se mostra um sistema de poder mais violento onde, por trás dessas supostas facilidades, escondem-se conglomerados gigantes que corrompem e quebram empresas ao redor do mundo e colocam cada vez mais poder na mão de menos gente. A indústria da música está em frangalhos, artistas vivem pra lá e pra cá vendendo penduricalhos para sobreviver e ainda tem quem diga: “é isso mesmo, artista vive é de show e de merchandising...”. Ou seja, pode-se pagar por tudo, menos pelo produto principal que o artista tem a oferecer. Tempos estranhos esses onde pessoas chamam essa situação de democrática.

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