DO MOMENTO EM QUE, JÁ AO FIM, UMA REVOADA

Por Wilson Araújo, em CONTOS

DO MOMENTO EM QUE, JÁ AO FIM, UMA REVOADA

18 de Dezembro de 2018 às 13:40

Foi então que bravos homens atiravam-se à morte certa, atrás de suas barbas sujas, cansados e velhos. Empunhavam espadas chanfradas e expulsavam de suas gargantas o grito mais medonho. Nenhum deles sorvia gota alguma de esperança, apenas fúria e empáfia. Corriam em direção à morte, era o que diziam. Porque? Joguem os escudos!

Mas atrás havia seus filhos e suas casas, seu legado e seus mitos, com profetas de cajados altos. A morte é menos terrível que o desaparecimento, que a covardia. Corram para o lado de lá, que estes bravos homens, famintos e esfarrapados vão se atirar contra os muros altos do jugo. Com suas armaduras furadas e enferrujadas, seus elmos partidos e feridas infeccionadas. Mas não há nada senão flechas e óleo quente! Joguem os escudos!

Há, senhores servos, duas fileiras inteiras e bravos homens, tocando seus tambores de guerra e soprando cornetas rachadas. Que tomem as casas, a comida, o gado e o trigo. Não levarão o orgulho nem terão beijos na barra de seus vestidos. Cortaram as gargantas e os atiraram aos corvos, mas estes se banquetearam na carne podre de homens livres. Mas finda-se a vida, pra que ficar sem ela, vivam homens, joguem os escudos.

Vida não existe sob o julgo dos chicotes e dos grilhões. Corriam os homens com lanças quebradas e olhos furados, mancando de uma perna e uma flecha enterrada no ombro. Corriam contra cavalos de armadura e piques brilhantes. Caiam, caiam aos montes, e seus estertores trovoavam pelos campos.  Os escudos foram trincados, mas nenhum foi jogado, nenhum foi deposto.

Ao fim, bravos homens lançaram-se à morte e morreram todos.

Aos conquistadores, finda a batalha ergueram o olhar e nada viram a conquistar. Sobraram cinzas e covardes. De joelhos. E foram embora, desejando mais coragem que catapultas.

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