25 de Abril de 2017 às 16:37
Um amigo, leitor do entrerios, perguntou o porquê do meu jejum prolongado no blog. Respondi entre dentes amarelos que era só uma pausa de reavaliação criativa. ‘Não vai dizer que tá faltando assunto’, insistia cinicamente o amigo. Acho que não, repliquei dando uma bicada na cerveja e mordiscando o tira gosto de linguiça caseira. Mas o fato é que pouca coisa anda me interessando ultimamente, incluindo aquela conversa, pensei comigo. Crise econômica, delações premiadas, adulteração da carne e da Linguiça nada disso me diz muita coisa.
Por falar em política e carne processada, Otto Von Bismarck, famoso chanceler alemão, afirmou certa vez que quanto menos as pessoas souberem como são feitas as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite. Não sei se essa frase é realmente de Bismarck, mas pouco importa. Só a citei aqui para encher linguiça, afinal, como bom brasileiro, não declino do meu direito de encher o meu embutidozinho.
A encheção de linguiça faz parte da nossa formação, do nosso caráter. Enchemos linguiça no trabalho, no trânsito, nos relacionamentos, na política, no cumprimento das leis. Às vezes tenho impressão que o Brasil é um linguição e nós os seus charcuteiros oficiais, defumando continuamente os restos de nossa moral esmigalhada. Geralmente estranhamos o gosto do ‘produto’ final, sofremos má digestão, mas seguimos com nosso ofício obstinada e mansamente.
Assim como a instrução normativa nº 4 de 2000, que qualifica a produção dos embutidos no País, nosso espírito enchedor de linguiça parece estar devidamente institucionalizado. Seja no Judiciário que faz as vezes de legislador, no legislativo que julga e cria leis redundantes ou no executivo que “governa” via medidas provisórias. Há embutidos de todos os tipos.
Bom, acredito que já enchi o suficiente. Da próxima vez que encontrar o famigerado amigo terei me livrado de sua cobrança impertinente e ao mesmo tempo cumprido minha meta no blog. E a você, caro leitor, que conseguiste chegar até aqui, espero que tenhas preenchido seu tempo escasso com algo útil e digestivo como uma boa linguiça.