EX DRUMMER (BÉLGICA – 2007)

Por Wilson Araújo, em CINEMA

EX DRUMMER (BÉLGICA – 2007)

24 de Janeiro de 2015 às 13:34

Sugestão de Música para acompanhamento da leitura:
 
 
 
“DEIXAI TODA A ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS”*.
Em que momento da história humana a fraternidade foi esquecida? Ou mesmo considerada?
Em tempos de caos político e social, dicotomias ideológicas, debates frenéticos entre surdos, polarização de ideias, positivação de comportamentos humanos e saudações do eu, como rasgar a carne podre da ignorância e mostrar aos débeis, porém irascíveis, que há um coração pulsante e morno repleto de abstrações e conceitos infinitos?
É de praxe da bestialidade humana jamais assumir seus erros, procurar sempre fora de si todas as causas das mazelas e carnificinas históricas. Como se um mundo criado na tríade matar-pilhar-destruir fosse obra das mãos sádicas alheias, que não tocam minha alma imaculada.
É de praxe, também, da pequenez maldita e desprezível dos homens arrastarem-se na lama e no lodo imundo, sorvendo carne putrefata e chorume dos cadáveres de seres ditos menores. Adicione apenas a palavra gourmet e tudo vira banquete dos deuses. Não há espaço além do meu e ninguém deve ultrapassá-lo. Mas há tanta gente a toda volta e as forquilhas estão afiadas.
Há quem defenda a natureza benéfica do homem. Há quem conheça a pobreza, há quem empilhe os corpos, há o carrasco e há quem dê as ordens. Qual a diferença entre o carrasco e o assassino? A consequência imediata de se acreditar na natureza benevolente do homem é aceitar que o demônio venceu a guerra.
 
 
O Rei está morto, mas só o preço do petróleo provoca uma dor coletiva.
É necessário, todavia, barrar os impulsos homicidas, portanto se fez o grupo. Nada prospera a esmo e em desordem e, freando os impulsos da índole humana, tenta-se criar a ideia de igualdade. Mas fraco e tolo como o homem pode ser, egoísta e ambicioso, verdugo incontrolável, se faz mais importante a ordem ao respeito. Respeito vem da compaixão, dos fracos, Ordem vem do medo. E medo traz o controle. E sempre há alguém para exercê-lo.
O medo civiliza, entorpece. É necessário ao Poder manter as rédeas da manada, manter o adestramento em dia e as reverências bem ensaiadas. É necessário o Divino, o pão, o circo, o caos. Entregam à massa, a propósito da educação, apenas o osso roído e velho da eterna ignorância. Manter em estado de adormecimento para manipular ao bel prazer. Tecer fios e fazer marionetes a serviço de seus interesses.
São tantos fios e novelos que dificilmente se sabe o que controla quem, vice e versa e a recíproca... o certo é que há sempre alguém controlando outro, desfrutando do prazer sádico de exercer um poder doentio, regando a autossatisfação com a desgraça condescendente de vermes manipulados.
Eles, sejam quem for, vem fazendo isso a séculos. A grande massa ignóbil não passa de peças de montagem num imenso tabuleiro. Eles vem, vão, fazem o que querem, nos estupram e depois agradecemos. A venda nunca cai porque os vendados a mantêm.
E os dados seguem rolando... viciados!
 

 

Imagine três deficientes tentando montar uma banda. Frutos da insanidade sádica e crueza do mundo dos excluídos. Criaturas torpes, descartáveis, sujas. Seres com senso de moral totalmente distorcido, ou mesmo a total ausência deste.
São homens verdadeiros, de um modo insuportável, cru e bárbaro. Ninguém liga pra ele, mas rendem uma boa história.
Os fios continuam sendo tecidos e as marionetes dançando.
 
 
 
Ps.: detalhe especial à magnífica trilha sonora, que encaixa perfeitamente nas sequências, não apenas dando total acesso aos sentimentos que se tenta exprimir, como apresentando artistas não muito conhecidos e sua riqueza musical, que você pode conferir aqui.
 
 
 
*Dante Alighiere (A Divina Comédia)
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