Fragmentos de um clássico - The Godfather 1 (EUA, 1972)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Fragmentos de um clássico - The Godfather 1 (EUA, 1972)

18 de Novembro de 2015 às 20:46

"Assim que atirar deixe sua mão escorregar para o lado e solte a arma, todos pensarão que ainda está com ela, vão olhar no seu rosto, saia rápido mas não corra, não olhe ninguém nos olhos mas não evite olhares." de Clemenza para Michael Corleone.

 

O Poderoso Chefão já foi analisado e elogiado por muitos críticos e cinéfilos do mundo inteiro, e assim como muitos, tenho um enorme carinho por esse filme e por seus personagens.

Cada gesto, olhar, frase, possui grande significado e como se trata de uma obra acabada, nos resta apenas esmiuçar os detalhes. Você pode até conhecer todo o enredo, mesmo assim conseguirá descobrir algo jamais visto. Cada um dos três filmes passa das 3h de duração, mas as atuações e o ótimo roteiro lhe prendem na poltrona fazendo com que aquilo pareça um trailer.

Não há quem não sinta um carinho pelos Corleones. O interessante é que a briga envolve mafiosos de famílias rivais: Corleone, Cuneo,  Tattaglia, Strachi e Barzini, mas para mim, os Corleones não são bandidos, torço por eles, bandidos são os Barzinis que mataram o Santino, são os Tattaglia que são alcoviteiros dos Barzinis, estes sim são maus e desajustados, um bando de criminosos italianos da pior espécie, mas os Corleones não.

Mais de 20 anos depois de ter assistido a primeira parte dessa trilogia, acabei por encontra-lo no Netlflix e arrisquei em assistir um pequeno trecho para relembrar, isso rendeu 3 horas de uma experiência, até certo ponto, nostálgica. De forma inevitável, nessa revisita acabei por comparar a impressão - de hoje e de vinte anos atrás - que tive de seis personagens do filme: Luca Brasi, Michael, Fredo, Don Vito, Sony e Tom Hagen e por isso resolvi compartilhar esse mergulho.

Aviso: Esse filme deve ser revisto com afinco, pois corre o sério risco do espectador destruir os personagens e de menosprezar as atuações que foram grandiosas quando assistidas a 20 anos atrás. No meu caso, acabei por confirmar o que já sentia por cada um deles.

I Personaggi

Luca Brasi - Sempre achei esse personagem enigmático, parece possuir um tipo de retardo mental e por isso acredito que não tenha pleno gozo de suas faculdades mentais ao ponto distinguir alguns sentimentos. Ele é realmente capaz praticar as maiores atrocidades no mundo do crime, era um cara assustador. Existe um ditado que diz que o “respeito (não admiração) que você tem por uma pessoa é proporcional ao mal que ela pode faze por você”, para mim esse ditado fez sentido no momento em que aquele homem alto, forte e temido, fica frente a frente com Don Vito Corleone. Brasi fica com medo.  Nessa hora pude perceber o tamanho do respeito que o chefe dos Corleones possuía. Brasi teme Don Vito como se fosse um ato involuntário, um instinto de animal, acho que Brasi conhecia apenas um sentimento, o medo, e somente diante dele recuava, como se seu subconsciente dissesse: com aquele eu não posso. Brasi atendia aos pedidos de seu padrinho da mesma forma que um cão atende seu dono.

Fredo Corleone: Fraco, sem qualquer tino para o mundo da máfia. Não gostei dessa figura desde o primeiro momento, Fredo é daquelas pessoas que não transmitem qualquer confiança, não me assustaria se Fredo fosse mais um adotado pelos Corleones, parece não possuir sangue italiano. Fredo fala mal da própria família. Um sujeito mais pra Las Vegas do que para Sicília.

Don Vito - Sempre desconfiado, quando recebe um agrado de fora da família - talvez por achar que isso não é peculiar da natureza humana - nunca acreditava, sempre achava que havia segundas intenções. Perspicaz, sujeito que impunha respeito pela calma e era capaz de mudar a opinião de alguém sem pronunciar uma palavra, apenas ouvindo. Don Vito sabia ouvir e entendia o peso de cada palavra, o verdadeiro teor de cada pergunta, até mesmo o conteúdo de cada gesto, um inexperiente facilmente perderia a fala e se borraria todo diante dele. Me parecia uma daquelas pessoas em que você nunca sabe o que ela realmente pensa, não por ser enigmático, mas por proteção. Amante da família e capaz de tudo para protege-la, Don Vito me passava uma ideia de proteção, me parecia um romântico mafioso, onde os favores, a gratidão e a família eram os valores supremos. Os detalhes da personalidade de Don Vito são revelados na segunda parte da trilogia.

Sony (Santino) Corleone: É cabeça quente, passional, sempre esperando uma chance para mostrar ao pai que pode ser o novo Don Corleone, mas como diz Don Vito: "mimei muito meu filho, ele fala quando se deve ouvir" e sempre o lembrava: "não diga o que realmente pensa a ninguém que não seja da família". A figura do Sony, desde o primeiro momento, parece ter uma contagem regressiva para morrer, uma verdadeira bomba relógio. Era muito previsível e tinha mais coração do que tino pros negócios, não conseguiria substituir o pai por muito tempo, além de ter uma queda por casos extraconjugais, o que para mafiosos é um ponto fraco.

Tom Hagen - O Consiglieri: Ajustado, calmo e equilibrado, um conselheiro. É adotado, mas tratado como filho e por Don Vito e como irmão pelos rapazes. É o advogado da família e como ele mesmo diz: “sou advogado de um só cliente”. O papel de Tom é aconselhar a família, mas a impressão que me dá é que Don Vito não vive dos conselhos de Tom, acho até que nem leva em conta por confiar mais no seu próprio taco, mas o mantem por perto para saber sempre sua opinião sobre os negócios da família. Michael é o único que percebe isso. Tom é a antítese de Santino, e por mais que os dois discutissem sobre os rumos de cada operação da família Coerleone, Sony sempre levava em conta suas ponderações. Podemos falar que um era 100% negócio e o outro 100% coração, ou seja, nenhum dos dois tinha predicados para assumir o posto de Don Vito.

Michael Corleone - Como dizia Clemenza (um agregado dos Corleones): Michael é um civil. “Esse não sou eu é minha família” era como Michael pensava. Conhecedor, mas pouco interessado nos detalhes do oficio da família, Sony  (seu irmão) o considerava um garoto, sem perfil de mafioso, apenas um querido irmão. Era por quem Don Vito nutria um carinho muito especial. Michael realmente não me parecia interessado em herdar a liderança dos Corleones, era calmo e muito  seguro em suas decisões. A personalidade de Michael foi marcada por atrocidades, é do tipo cara que não gosta de confusão, mas quando provocado é capaz de retribuir em proporção dobrada, daí o sangue italiano, o sangue Corleone.

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