Guardia Nova (Piauí)

Por Diego de Montalvão, em MÚSICA

Guardia Nova (Piauí)

25 de Junho de 2014 às 23:19

O que dizer aos que se postam nostálgicos diante da modernidade? Não é pequeno o número de críticos que, inebriados pelo passado, põem em xeque a qualidade dos novos artistas. O futuro da arte realmente está comprometido pelo consumismo de nossa sociedade? A evolução seria tão cruel ao ponto de apagar o lirismo dos poetas?

Este quarteto recém-nascido no Piauí, formado por Jan Pablo, Cavalcante Veras, Hugo Trincado e Dimitri Petit, vem pra mostrar que é possível manter-se inspirado em meio a todas as mudanças na maneira de se desfrutar do universo musical.  Munidos de um bom gosto raro, os integrantes se comportam como antenas que captam as tendências da música mundial.

Para os que gostam de rótulos, o estilo da banda tende para a chamada “World Music”. A riqueza da sonoridade do quarteto justifica o termo. E a pretensão do grupo é proporcional ao zelo que os componentes tiveram com a construção das músicas. Tudo tem um cuidado primoroso. Seja no overdub do vocal em Solução ou na duplicação do som da caixa da bateria em Parasoul, o quarteto enfatizou a qualidade na produção de seu primeiro disco. O grupo superou as dificuldades técnicas da gravação de elementos eletrônicos e dosou a mão para montar um som coeso, sem tornar sua sonoridade enfadonha ou por demais alegórica.

O som da banda é bastante atual. O fato de disponibilizar gratuitamente o álbum na íntegra também representa uma nova tendência. A postura aparentemente despretensiosa diante da mídia é justificada pelo intencional respeito à privacidade dos músicos e ao mecanismo de não influência aos ouvintes a partir de imagens da banda. O site do Guardia Nova (www.guardianova.net.br) pretere a identidade dos componentes em prol de figuras e imagens que materializem a idéia do som do quarteto.  A mistura de Rock, MPB, anos 80, música regional e outros ritmos encontram perfeito equilíbrio e não compromete a personalidade do grupo. Esta miscelânea de belos arranjos e melodias dá um tom universal às musicas do quarteto. 

Versando sobre as músicas do álbum, Frescurinha casa um duelo de melodia de vozes com um agradável Loop eletrônico. Macacal tem um ar regionalista e esbanja poesia. As “puramente” eletrônicas, porém não menos orgânicas, Melvin Jones (Quase nada) e Guardia traz uma nostalgia dos anos 80 e lembram os noruegueses do A-Ha. O "desencontro" de bateria e contra-baixo em Setenta e Seis, a mais comercial do disco, dão uma roupagem atual a sonoridade do grupo. A melhor do álbum, a teatral Parasoul, possui uma forte letra sobre a beleza do horror, além de uma Cítara que fecha magistralmente a peça.

Acidentalmente o futuro da música e de outras manifestações artísticas tendem ao dinamismo. Ninguém vai mais às lojas ou folheia o encarte do último lançamento da semana. Em compensação, o maior acesso às obras possibilitou aproximar o público ao artista. Para os que compreenderem esta nova forma de interação e consumo musical provavelmente terão vida longa no mercado da música. E o Guardia Nova, além de possuir qualidade para se projetar nacionalmente, parece ter aprendido bem a lição. 

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