Habemus Papam (Itália, 2011)

Por Leandro Lages, em CINEMA

Habemus Papam (Itália, 2011)

04 de Setembro de 2018 às 21:36

E se um cardeal, após escolhido para ser o papa, se recusar a assumir o encargo de líder máximo da Igreja Católica? Como explicar o fato de alguém não querer atingir o ápice de sua carreira?

Habemus Papam aborda estas questões de maneira bastante humorada.

Durante o conclave para escolha do novo papa, os cardeais demoram a chegar a um consenso. Após várias tentativas frustradas resolvem abandonar os “candidatos” lançados e escolhem um cardeal desconhecido que jamais se propusera a se tornar papa.

O que seria motivo de grande emoção transforma-se em pânico para o escolhido, gerando uma crise no Vaticano, pois a tradicional fumaça branca já havia sido lançada pela chaminé da Capela Sistina e a multidão aguardava do lado de fora para conhecer o novo papa.

Enquanto a população aguarda, no interior do Vaticano a tensão se agiganta. Como explicar que o escolhido não deseja assumir a função? Segundo ele, não se julga preparado para tamanha responsabilidade. Mas se a escolha decorre de uma decisão divina, Deus falhou em sua intervenção? Como explicar isso à população sem abalar as bases da fé católica?

Um psicanalista é chamado para convencer o escolhido, mas ele termina por fugir da sede do Vaticano, missão fácil para um cardeal desconhecido, que passa a trafegar tranquilamente pelas ruas de Roma refletindo sobre a situação.

Toda a trama é conduzida de forma humorada, mas sem descuidar do drama pessoal do cardeal em conflito com os interesses da igreja católica.

Esse drama faz lembrar uma frase do jurista Nelson Hungria: “Ninguém é obrigado a ser herói”. A frase merece um aprofundamento reflexivo para concluir que ninguém precisa aspirar altas posições sociais ou profissionais na vida, e agir assim não significa insucesso ou mediocridade.

A noção de êxito na vida não perpassa pela atual obsessão imposta no sentido de que todos devem galgar o topo de uma montanha gigantesca denominada equivocadamente de “sucesso”.

Como só há um único “papa” entre os diversos seguidores da vida religiosa, aqueles que não atingem (ou não queiram atingir) tal posição não podem ser classificados como fracassados.

A noção de sucesso para muitos seguidores da vida religiosa talvez aponte para outras missões que jamais serão compreendidas pelos que consideram o papado o ápice da carreira eclesiástica. E isso também se aplica a todas os seres humanos em suas vidas pessoais e profissionais. Algo que se aproxima da melodia “O Vencedor”, da banda Los Hermanos:

“Eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida devagar pra não faltar o amor (...) faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”

Após ler a frase de Nelson Hungria e ouvir a música do Los Hermanos, cabe o questionamento: E se o ápice da vida pessoal ou profissional for simplesmente viver em paz? Nesse caso, ninguém é obrigado a querer ser papa, ou rei, ou presidente. Pelo menos por enquanto...

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