In Natura (Noruega, 2014)

Por Raul Lopes, em CINEMA

In Natura (Noruega, 2014)

29 de Outubro de 2015 às 20:20

“Ai, se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero”
Autonomia - Cartola

Quem é você quando ninguém está olhando?

Todo mundo tem a necessidade de ficar sozinho, o isolamento é um desejo natural do ser humano, principalmente daqueles que convivem com muitos. Martin é o nome do nosso protagonista, casado e pai de um filho pequeno. Certa manha ao observar o que acontecia ao seu redor, Martin se pega pensando como será sua vida daqui a 30 anos? Como será sua mulher? O que estará fazendo?

Antes que pudesse responder, percebe que existe algo mais importante do que o mundo rotineiro em que vive, de conversas de bares e bebida com os amigos. Começa a ter a sensação de que a cada dez dias de duração da sua vida ele vive apenas um.

Os convites são sempre os mesmos e agora precisa aumentar o rol de desculpas para justificar seus desfalques. Como primeiro exercício do desapego, decide não mais criar desculpas, não mais se importar com o que seus amigos estão fazendo ou até mesmo nem pensar no que está perdendo. Em seguida passou se questionar se realmente precisa deles? Se está realizado com sua vida, mulher e filho?

Para encontrar essas respostas - da mesma forma que Zaratustra de Nietzsche - Martin decide passar uns dias isolados numa floresta na tentativa de pensar no rumo em que sua vida está tomando e se realmente deseja seguir esse bonde.

Aos poucos os estágios de isolamento vão surgindo, inicialmente se sente livre, pensa em desapegar de tudo e renascer para uma vida nova. Põe numa balança de um lado seu desejo de liberdade e do outro a família que ele mesmo idealizou e que atualmente não tem certeza se era aquilo que queria. Martin, logo imagina sua vida de solteiro, mas como uma defesa do seu subconsciente se pega pensando em sua mulher e filho. Diante de todo esse contraponto, o isolamento faz com que Martin possa encarar, sem subterfúgios, suas ansiedades, sonhos, neuroses e desejos sexuais.

Praticamente todo comandado pela voz em off do próprio protagonista, o filme nos apresenta temas delicados de forma simples. Em seus 80 minutos não há espaço para longas tomadas ou profundidade psicológica, talvez por essa forma despretensiosa e enxuta que o filme ganhe destaque.

Na reta final, surge a possibilidade de uma virada, um turning point, e a partir daí temos pistas do que Martin tirou dessa experiência e de que forma sai da floresta.

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