Jovem e bela (França, 2013)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Jovem e bela (França, 2013)

19 de Março de 2014 às 20:14

A tradução de muitos títulos de filmes para o português (principalmente do Brasil) deixa a desejar. De forma não muito rara, a tradução acaba muito distante da intenção do título original, o que confunde o espectador.

 

No caso do último filme do parisiense François Ozon, Jeune et Jolie, a distribuidora nacional não quis arriscar e optou pela tradução literal: Jovem e Bela. Qualquer um poderia pensar que, diante deste caso, a tradução poderia ter ousado e trabalhado um título mais comercial ou um subtítulo para obra. Mas a opção pelo simples e literal desta vez foi um acerto. Realmente Jovem e Bela traduz fielmente a pretensão do filme.

A leitura de qualquer sinopse sobre o filme ou até mesmo o próprio título remete imediatamente o leitor às obras literárias e cinematográficas que retratam uma garota jovem e bela que atrai a atenção de homens mais velhos. Jeune et Jolie é exatamente isso, mas não exatamente a mesma história. 

 

Por mais que essa temática já tenha sido abordada em outros filmes, como o clássico Lolita (EUA/UK 1962) de Stanley Kubrick - extraído da obra do russo Vladimir Nabokov - que teve seu remake em 1997 com o Jeremy Irons no papel do homem de meia idade enfeitiçado por uma adolescente, Jeune et Jolie é diferente desde a sua condução que é baseada nas 4 estações do ano. 

Por outro lado, observa-se uma simpática relação com Belle de Jour (FRA/ITA - 1967), do diretor espanhol Luis Buñuel, onde Catherine Deneuve interpreta Séverine, uma jovem casada que, apesar de rica, se prostitui para realizar suas fantasias. Mas as semelhanças com o espanhol param por aí. O fundo psicológico não é a pretensão de Ozon. Em Jeune et Jolie, as coisas são mais diretas representando até mesmo o ritmo e a forma adolescente de resolver problemas.

Claro que a relação entre uma adolescente e um homem mais velho possui uma conotação de abuso sexual, de pedofilia ou qualquer outro ato repugnante. Mas François Ozon teve a habilidade de caminhar sobre essa linha tênue. É obvio que ele provoca com as atitudes de Isabelle (Marine Vacth) - uma jovem francesa que parece desprendida de qualquer pudor - jogando durante todo o filme o espectador a medir seu padrão de adequação às regras sociais.

A interpretação da jovem atriz Marine Vacth é um destaque no filme. Romântica, sensual e atrevida, Marine passa da média em todas estas facetas. O filme fala de descobertas, do turbilhão de dúvidas que provoca a adolescência. Neste aspecto, o filme se afasta de Lolita. Em Jeune et Jolie a protagonista é guiada pela curiosidade e atraída pelo sexo. Esta receita conduz todo o filme.

Isabelle pertence a uma família burguesa francesa e mora com a mãe, o padrasto e seu irmão mais novo, o qual possui uma relação de amizade e até mesmo de confiança. Diferentemente da obra de Nabokov, onde Lolita possuía 12 anos, aqui a protagonista possui 17 anos que, dependendo da oportunidade, pode virar 18 anos ou mais.

Não se trata de um filme com densidade dramática. Muito pelo contrário, o mais delicado na condução de Ozon é saber o motivo de seus encontros secretos. Para isto, o filme oferece a opinião de seus parceiros que apontam a crise econômica que vive a França como motivo de sua prostituição. Mas dinheiro não lhe falta, até porque a protagonista não demonstra qualquer ambição material. No colégio, Isabelle não sofre bullying e, em casa, é bem tratada por sua mãe e padrasto. Por mais que pareça ser uma alienada e sem contato com o mundo ao seu redor, Isabelle parece ter algo forte que lhe impulsiona a realizar seus encontros e para descobrir não se deve procurar somente naquilo que ela tem. A resposta pode estar naquilo que lhe falta.

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