Júpiter Maçã - Uma tarde na fruteira (2007)

Por Raul Lopes, em MÚSICA

Júpiter Maçã - Uma tarde na fruteira (2007)

17 de Dezembro de 2014 às 13:17

“De tiro certeiro, é de tiro certeiro
Como bala que já cheira a sangue
Quando o gatilho é tão frio
Quanto quem tá na mira - o morto!”

Chico Science, mas o tiro foi do Marcio Barros

Os rótulos musicais sempre possuem uma generosa dose de erro ou de imposição daquilo que você queria que fosse, mesmo assim, me impressiono com a efervescência e a atmosfera que o Rio Grande de Sul possui para a música psicodélica dos anos 60.

A prova disso é que músicos gaúchos não tocam mais “rock dos anos 60” e sim “Rock gaúcho”. Não há critérios ou uma tabela oficial para definir rótulos musicais, é só criar, jogar e vê se pega. A exemplo disso é o “post-punk” que em nada se relaciona com esse estilo, apenas demonstra uma sequencia temporal de estilos musicais.

Realizando uma digressão, não há como desvencilhar a música psicodélica brasileira do legado deixado pelos Mutantes. Quando o assunto é “rock and roll”, Rita  Lee, Arnaldo e Sérgio Baptista são os responsáveis pela melhor, mais inovadora e respeitada produção musical brasileira, pelo menos é o que as revistas inglesas mostram.

Os Mutantes não estavam só e seria uma covardia enumerar algumas bandas psicodélicas brasileiras e deixar de lado outras menos conhecidas (não menos importantes). Para não cometer esse sacrilégio, segue um link com o melhor repositório brasileiro sobre o assunto: http://brnuggets.blogspot.com.br/.

Mas todo esse “cerca-lourenço” é pra falar do ultimo disco do músico gaúcho Júpiter Maçã – Uma tarde na fruteira. Imagine em 2007 ter que fazer um disco com sonoridade sessentista, sem, contudo, ser enjoativo. No caso de Júpiter, o perigo é ele se repetir. Depois de ter criado o personagem Júpiter Maçã, Flávio Basso (Cascavelletes) mergulhou de cabeça numa carreira que talvez seja mais respeitada fora do Brasil do que aqui.

No disco “Uma tarde na fruteira” a sonoridade não é surpresa, mas o zelo pela produção transforma esse disco em algo muito interessante. A competente banda que acompanha Júpiter conhece bem dos meandros dos anos psicodélicos, que adrede imprime uma forma moderna de tocar o passado.

O inicial da obra é o mosaico de imagens de “A marchinha psicótica do Dr. Soup”, uma espécie de “Being For The Benefit Of Mr. Kite” da tropicália. A referência aos Beatles não para aí, além dos detalhes que estão sempre presente no disco, são lembrados ainda no título da balada “Beatle George” numa direta referência a “My sweet lord” com pitadas de citara ao longo da musica.

Sem passar detalhadamente por cada uma das 15 faixas do álbum, na sequencia nos deparamos com os Kinks na faixa “Tema Júpiter Maçã”. A letra faz referência a títulos de músicas de álbuns anteriores, assim como “Glass onion” dos Beatles.

Em “As mesmas coisas” o sotaque lusitano explica que pra “rolar” alguma coisa entre duas pessoas é necessário ser mais do que parecido: “Nós fazemos as mesmas coisas / Nós falamos as mesmas coisas / Nosso idioma é a mesma língua / Mas, meu amor, a gente junto não rola / E você sabe, meu amor, não rola”.

O “moderno” fica por conta da influência da banda franco-inglesa Stereolab. O som de teclados, guitarras de base limpa e solos com Fuzz, fazem de “A menina super Brasil” uma pegada mais processada. Não se surpreenda em achar parecido com Monbojó, a culpa é do Stereolab.

“Plataforma 6” é suave e conta com uma atmosfera jazzística,  “Viola de aço” é Bob Dylan no som e na voz e “Um sorvete com vocês” é uma espécie de samba lisérgico. Por mais que se diga que esse disco é o mais acessível do Júpiter Maçã, a sua psicodelia não é pra muita gente. Pra dar certo, vem quem vai de Mutantes, Arnaldo Baptista, Syd Barrett e Beatles (Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band).

Segue o link do disco:

http://www.mediafire.com/download/d68caiocstietgp/Uma+tarde+na+fruteira.rar

... e essa entrevista:

http://vimeo.com/113459762

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