Laços de Infância (2024)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Laços de Infância (2024)

15 de Agosto de 2024 às 01:22

Durante os anos 1970, o diretor francês François Truffaut, um dos “fundadores” da Nouvelle Vague, foi um militante em favor da infância. Em 1974, sem intenção de escrever um roteiro tradicional, preferiu improvisar com as crianças e construir os diálogos a partir do vocabulário delas. O enredo de Idade da Inocência é composto de cenas curtas que ilustram diferentes aspectos da infância, cujo ponto em comum é a extrema resistência e capacidade de sobrevivência que o cineasta atribuía às crianças.

 

Além da idade da inocência, Truffaut dirigiu Os Pivetes (Les Mistons, 1957), Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups, 1959), Menino Selvagem, (L'Enfant Sauvage, 1970). Aqui destaco Os Incompreendidos que foi o primeiro de quatro filmes com o mesmo ator Jean Pierre-Láaud que protagonizou outros três do mesmo diretor que mostravam a vida do personagem Doinel ao longo de um período de 20 anos, assim pudemos nos deleitar com a trajetória de um mesmo personagem interpretado pelo mesmo ator durante duas décadas, da infância à vida adulta.

 

Laços de Infância (2024) da estreante diretora Júlia Lopes representa o resultado de um trabalho apresentado no Bright Short Festival e contou com um esforço coletivo da equipe Kayrê que, assim como Truffaut, escolheram o tema da infância como objeto de trabalho. Aqui rendo meus elogios ao incentivo da escola em apoiar as produções de seus alunos.

 

A direção de um filme é responsável por coordenar o set e responde a todas as perguntas sobre o filme. Nada pode escapar ao seu olhar crítico e implacável. Ela decide onde deve ficar a câmera em cada enquadramento e quanto tempo o plano deve durar. Ensaia os atores e é corresponsável pela qualidade de suas interpretações. Mesmo com todas essas atribuições a novel diretora conseguiu pinçar em suas cenas um tenro olhar que o delicado roteiro pedia.

 

A produção conta com o roteiro de Beatriz Pinheiro que de forma harmoniosa desenhou os conflitos de quem avança pelos hábitos infantis e chega à adolescência. A delicadeza do enredo nos faz acreditar, num primeiro momento, que a infância seria apenas uma curta passagem da nossa existência, no entanto, em um bem articulado turning point, somos arremessados à eternidade da inocência.

 

O trabalho conta com a atuação segura das atrizes Alice Chaib, Marina Dantas, Laura Melo, Giovana Melo, Rebeca Dantas, Cecília Carvalho e Ana Sophia, figuração de Ravi Falcão, Sarah Brandão, Maria Antônia e Gabriela Pinheiro, figurino e maquiagem de Giulia Veiga e cenário de Patrícia e GIlmar Melo, equipe que não se assustou com a responsabilidade de realizar o primeiro trabalho cinematográfico. Parabéns a todos.

 

Espero que assim como a estreia de Truffaut com o curta Os Pivetes (Les Mistons, 1957) estejamos diante da primeiro de muitas outras produções desta equipe.

 

A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar.” (Mia Couto, 2015).

 

Link para o curta: https://www.youtube.com/watch?v=pzuZM40to4A

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