Nasi e a t(ira)nia dos covardes

Por Márcio Barros, em OPINIÃO

Nasi e a t(ira)nia dos covardes

04 de Setembro de 2017 às 16:30

Tocqueville, no século XIX, utilizou uma expressão irônica para designar a maior contradição dos sistemas democráticos: 'a tirania da maioria'. Mais de dois séculos depois, com a popularização das redes sociais, podemos tranquilamente dizer que vivemos a era da tirania dos covardes, já que estes agora se tornaram maioria, ou pelo menos conseguem disparar sua artilharia pesada, convenientemente entrincheirados nos porões do anonimato.
 
Recentemente, o cantor Nasi, do Ira!, foi vítima dessa tirania. Em uma apresentação no interior de São Paulo, o vocalista, visivelmente embriagado, cambaleou trôpego pelo palco, esqueceu as letras das músicas e, finalmente, vencido pelo torpor, sentou-se no chão do palco ao lado da bateria, acendeu um cigarro e contemplou a encenação do próprio fracasso. O episódio foi registrado pelos smartphones da plateia, que assistia a tudo perplexa, como o público dos anfiteatros romanos admirava extasiado a miséria dos gladiadores agonizantes.
 
Horas depois, o incidente inundou as redes sociais, obrigando Nasi a editar um vídeo pedindo desculpas pelo ocorrido, prestando contas não apenas aos que pagaram para assistir ao show, mas ao tribunal de exceção dos tirânicos de plantão. Um jornalista da Jovem Pan, impregnado de moralismo piegas e politicamente correto, fez um discurso inflamado, condenando a falta de profissionalismo do cantor e, como bom inquisidor, sentenciou que o vocalista deveria “no mínimo” reembolsar os espectadores que não “mereciam tamanho desrespeito”.
 
A atitude de Nasi pode não ter sido correta, mas, se houve algum prejuízo foi ao próprio, que, no fim das contas, cometeu apenas o ‘pecado’ de se expor como uma pessoa normal, ao contrário da imensa legião de fracassados que utilizam as redes sociais para se autoafirmar, agredir ou exibir seu narcisismo grotesco e cafona, como reação compensatória à mediocridade a que estão condenados eternamente.
 
Nas timelines e nos perfis dessa legião todos são heróis, sábios e bem sucedidos, ninguém tem sido ‘grotesco, mesquinho, submisso e arrogante’,ou ‘se agachado para fora da possibilidade do soco’ ou nunca ‘sofreu a angústia das pequenas coisas’. Pois bem, assim como Fernando Pessoa, também ‘estou farto de príncipes, semideuses!’ E assim como Nasi, recuso-me a me submeter à tirania dos covardes.
Tocqueville, no século XIX, utilizou uma expressão irônica para designar a maior contradição dos sistemas democráticos: 'a tirania da maioria'. Mais de dois séculos depois, com a popularização das redes sociais, podemos tranquilamente dizer que vivemos a era da tirania dos covardes, já que estes agora se tornaram maioria, ou pelo menos conseguem disparar sua artilharia pesada, convenientemente entrincheirados nos porões do anonimato.
 
Recentemente, o cantor Nasi, do Ira!, foi vítima dessa tirania. Em uma apresentação no interior de São Paulo, o vocalista, visivelmente embriagado, cambaleou trôpego pelo palco, esqueceu as letras das músicas e, finalmente, vencido pelo torpor, sentou-se no chão do palco ao lado da bateria, acendeu um cigarro e contemplou a encenação do próprio fracasso. O episódio foi registrado pelos smartphones da plateia, que assistia a tudo perplexa, como o público dos anfiteatros romanos admirava extasiado a miséria dos gladiadores agonizantes.
 
Horas depois, o incidente inundou as redes sociais, obrigando Nasi a editar um vídeo pedindo desculpas pelo ocorrido, prestando contas não apenas aos que pagaram para assistir ao show, mas ao tribunal de exceção dos tirânicos de plantão. Um jornalista da Jovem Pan, impregnado de moralismo piegas e politicamente correto, fez um discurso inflamado, condenando a falta de profissionalismo do cantor e, como bom inquisidor, sentenciou que o vocalista deveria “no mínimo” reembolsar os espectadores que não “mereciam tamanho desrespeito”.
 
A atitude de Nasi pode não ter sido correta, mas, se houve algum prejuízo foi ao próprio, que, no fim das contas, cometeu apenas o ‘pecado’ de se expor como uma pessoa normal, ao contrário da imensa legião de fracassados que utilizam as redes sociais para se autoafirmar, agredir ou exibir seu narcisismo grotesco e cafona, como reação compensatória à mediocridade a que estão condenados eternamente.
 
Nas timelines e nos perfis dessa legião todos são heróis, sábios e bem sucedidos, ninguém tem sido ‘grotesco, mesquinho, submisso e arrogante’,ou ‘se agachado para fora da possibilidade do soco’ ou nunca ‘sofreu a angústia das pequenas coisas’. Pois bem, assim como Fernando Pessoa, também ‘estou farto de príncipes, semideuses!’ E assim como Nasi, recuso-me a me submeter à tirania dos covardes.
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