O Pai Goriot - Honoré de Balzac

Por Raul Lopes, em LIVROS

O Pai Goriot - Honoré de Balzac

27 de Julho de 2018 às 17:08

Esta postagem é fruto da análise da obra ‘O pai Goriot’ de Honoré de Balzac. É talvez um dos mais conhecidos da Comédia Humana, obra monumental com 96 romances e novelas, tendo sido publicado originalmente em quatro números sucessivos na Revue de Paris no inverno de 1834/35 e logo depois em livro em 1835. O texto trata de uma situação imaginária e retrata um momento posterior ao final da história. Nela relato minhas impressões e questionamentos sobre o enredo. Recomendado àqueles que já conhecem a obra:

 

Caro Eugênio de Rastignac,

 

Tomei conhecimento de vossa situação e venho pedir-te atenção para essa importante notícia que me chegou da rua Neuve-Sainte-Geneviève. Me sinto feliz em poder me comunicar com aquele que possui a alma aberta, capaz de representar a bondade no lodaçal pantanoso da aristocracia parisiense. O senhor possui um bom pai, uma boa mãe, irmãs e tias que sempre lhe incentivaram e mesmo assim foi capaz cuidar do pai de outro, doando a atenção e o respeito que somente um filho seria capaz de oferecer ao seu genitor.

Confesso que falso levantei sobre vossa pessoa, mesmo quando Honoré me contava de todo seu sofrimento e dedicação à Goriot, dúvidas tive quanto as vossas reais intenções, mas isso não vem ao caso. O que lhe trago é mais importante.

Como sabes, hoje faz dez dias da partida do velho fabricante de massas. Acredito que ainda tenha dívidas acumuladas pelos últimos eventos destinados aos cuidados de Goriot. Sei também que, recentemente, Anastácia lhe negou um pedido de ajuda para que você recuperasse o relógio que fora penhorado para levantar alguns francos para o enterro do padre. Creio que tal arroubo da senhora Restaud se deve a rasura no título que a entregaste para que pudesse comprar o vestido para o baile de despedida na casa da Viscondessa de Beauséant, título que também fora assinado por Vautrin. Pois bem, é sobre esse trompe-la-mort que trata meu comunicado.

A notícia já se espalhou por toda margem esquerda do Sena: “Com ajuda dos dez mil comparsas o engana-a-morte foge mais uma vez das garras do chefe da polícia parisiense”. Estimado Rastignac, o falsário foi visto rondando o Quartier Latin e tem se encontrado as escondidas com madame Vauquer. Confesso querido amigo, que tal notícia me traz grande preocupação. Ele está disposto a tirar-lhe a vida. Não se conforma com vosso desprezo pela senhorita Taillefer e o culpa pelo fracasso do pacto que deveria ser cumprido por você após a morte do Sr. Frederico de Taillefer. Jacques Collin te considera um cúmplice do assassinato, um traidor, e está disposto a um acerto de contas o qual acredita ser o credor.

Estimado Rastignac, fuja. Não é uma hora para se passar por um jovem “noventa de três” e enfrentar aquela víbora de sete peles. Madame Vauquer tornou-se vossa inimiga e é capaz de tudo para recuperar o prejuízo sofrido com a saída de seus inquilinos, a velha também lhe culpa pela depressão que se abateu sobre sua maison e, assim como Vautrin, se julga credora.

Caro Rastignac, mandar-te-ei, por Cristóvão, três mil francos para que possa saldar as dívidas, pelo menos aquelas em que o dinheiro possa pagar. Ofereço-te um abrigo para que facilite a fuga na prateleira do meio do meu escritório, lá estarás ao lado do Coronel Chabert e de uma vaga para mais um capítulo dessa Comédia Humana.

Por favor não esqueça de mandar notícias.

De seu amigo.

R L de A N

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