O som da imagem (Teresina-PI, 2019)

Por Leandro Lages, em CINEMA

O som da imagem (Teresina-PI, 2019)

23 de Dezembro de 2019 às 19:39

Viagem no tempo sempre povoou o imaginário popular, seja com o objetivo de alterar o passado ou apenas para presenciar algum fato histórico.

O físico Stephen Hawking, em sua obra “O universo em uma casca de noz”, até explicou como seria uma viagem no tempo, algo bem complexo de acontecer. O espetáculo “O som da imagem” proporciona essa viagem de forma bem mais simples.

Idealizado pelos cineastas Douglas e Marden Machado, o espetáculo consistiu em levar uma orquestra sinfônica para o interior de uma sala de cinema e, enquanto tocam, na tela são projetadas as primeiras transmissões do cinema mudo e alguns curta-metragens bem antigos.

Impossível não imaginar a reação da plateia durante as primeiras transmissões do cinema. Para quem nos idos do século XIX estava acostumado apenas com registros fotográficos, como não se deslumbrar com imagens em movimento em uma tela gigantesca?

A mesma reação que temos atualmente com algumas projeções em 3D, certamente assustou a plateia daquela época presenciando uma arma sendo disparada em sua direção ou uma locomotiva em movimento rumando para a câmera como se fosse atingir a todos os que a assistiam.

Uma verdadeira viagem no tempo presenciar esses fatos novamente, lembrando ser comum naquela época a presença de músicos no cinema para dar o tom da trilha sonora.

Meu interesse no espetáculo era assistir à orquestra. Acompanho o trabalho dos músicos há bastante tempo, muitas vezes em desconfortáveis apresentações ao ar livre ou na minúscula sala do Palácio da Música sempre apinhada de muita gente.

Assistir a uma apresentação da orquestra no conforto e com a boa acústica de uma sala de cinema me atraiu de imediato.

Me impressionou perceber como a música pode ser plástica e moldável a muitas cenas. As trilhas sonoras de “2001 - Uma odisseia no espaço” e “Star Wars” casaram com perfeição na projeção de “Viagem à Lua”, um filme mudo de 1919.

A orquestra manteve o ritmo alucinante da música “Cavalaria Ligeira”, de Franz von Suppé, na exata medida da transmissão de “O grande roubo do trem”, de 1903.

A comédia “O espantalho”, de 1920, arrancava gargalhadas da plateia, certamente potencializadas pelos acordes perfeitos dos três atos de “Die Fledermaus”, de Strauss.

E, para encerrar, não poderia faltar Charles Chaplin, com o curta “A Cura”, de 1917.

Aqui a genialidade de Chaplin foi mesclada à criatividade do maestro Aurélio Melo ao incluir duas composições autorais: “Invicta”, uma homenagem aos bandolins de Oeiras, sua terra natal e “Chovendo em Parnaíba”. Impressionante como ambas as melodias se entrelaçaram a “Radelzky March”, de Strauss e “Hungarian Dance”, de Brahms, e construíram uma trilha sonora excepcional para o curta de Chaplin.

Ao fim, como não poderia deixar de ser, aplausos intermináveis com a plateia de pé agradecendo à oportunidade de uma agradável viagem no tempo que só mesmo o cinema e a música são capazes de proporcionar.

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