Rogério Skylab, Um cadáver da música brasileira

Por Márcio Barros, em MÚSICA

Rogério Skylab, Um cadáver da música brasileira

30 de Novembro de 2016 às 18:39

Essa bengala é meu corpo, tateia o que me cerca, diz o que eu não saberia, alerta, investiga, espreita, enxerga. Estende meus braços, continua minhas mãos, é a bengala dos cegos. Avança por caminhos suspeitos, recua, para, está à beira do abismo
. (Bengala de cego)skylab/maio/2015
O compositor Rogério Skylab já afirmou reiteradas vezes que se considera um cadáver da música brasileira. Um cadáver que procria, por sinal. Depois de finalizar a série dos 10 ‘Skylabs’, encerrou recentemente a trilogia dos carnavais (Abismo e Carnaval, Melancolia e Carnaval, Desterro e Carnaval). É poeta, tem um livro de sonetos (debaixo das rodas de um caminhão), crítico e ensaísta: mantém o blog Godard City, em que publica ensaios, poemas, e estudos sobre cinema, literatura, música, etc...
Meu primeiro contato com skylab foi há uns 15 anos. Um amigo apresentou-me seu quase hit “matador de passarinho”, uma espécie de paródia da música passaredo de Chico Buarque e Francis Hime. Achei interessante que alguém naquela época ironizasse marotamente a ditadura ecochata ainda incipiente.
Não fiquei por aí. Anos mais tarde descobri que através da figura caricata, construída em parte pela mídia, em parte pelo próprio Skylab e de toda a suposta escatologia e devassidão de suas letras, perpassava algo sutilmente familiar. Talvez conceitos meio fora de moda como pulsão sexual e pulsão de morte, niilismo, degradação ...
Em algumas entrevistas, Rogério repele o caráter humorístico atribuído a suas letras e poemas. “Nunca foi minha intenção fazer algo para as pessoas rirem. Se existe algo neste sentido, é puramente acidental”, Afirma. E a verdade muitas vezes carrega essa ambiguidade em suas entranhas. O trágico e o patético da condição humana se entrelaçam indefinidos numa estranha valsa, como ilustrado na terrível e real imagem de um ‘câncer no cu’.
A verdade explode na cara da gente, A verdade é crua, a verdade é nua, A verdade torce e a verdade estupra. A verdade é puta, a verdade é puta, A verdade trai e nem se incomoda. A verdade grita em poucas palavras, A verdade arde, a verdade arde
A natureza que produz o amor, o sorriso e a flor é a mesma que gera o câncer, o assassinato e a perversão, embora alguns incautos tenham dificuldade de enxergar isso. O desperdício e não o racionamento é o que pauta o nosso processo evolutivo: ”[..]desperdício de lágrimas, desperdício de som, desperdício de nomes, desperdício dos anos, desperdício de sonhos,..”. Desperdício de vidas. A natureza é desperdício e Rogério Skylab é o poeta que canta a natureza em sua plenitude. Sem filtros. Sem Cortes.
Um dos temas centrais desse caldo poético de Skylab é a morte. “Falar da morte é uma forma de sobreviver a ela” disse o artista em uma entrevista recente à Folha de São Paulo. A certeza da morte talvez seja a verdade mais óbvia da existência, ao mesmo tempo que, segundo Clarisse Lispector, ‘O óbvio é a verdade mais difícil de enxergar’. Faz-se necessário e urgente, portanto, que um cadáver nos diga o óbvio.
Essa bengala é meu corpo, tateia o que me cerca, diz o que eu não saberia, alerta, investiga, espreita, enxerga. Estende meus braços, continua minhas mãos, é a bengala dos cegos. Avança por caminhos suspeitos, recua, para, está à beira do abismo
. (Bengala de cego)skylab/maio/2015
O compositor Rogério Skylab já afirmou reiteradas vezes que se considera um cadáver da música brasileira. Um cadáver que procria, por sinal. Depois de finalizar a série dos 10 ‘Skylabs’, encerrou recentemente a trilogia dos carnavais (Abismo e Carnaval, Melancolia e Carnaval, Desterro e Carnaval). É poeta, tem um livro de sonetos (debaixo das rodas de um caminhão), crítico e ensaísta: mantém o blog Godard City, em que publica ensaios, poemas, e estudos sobre cinema, literatura, música, etc...
Meu primeiro contato com skylab foi há uns 15 anos. Um amigo apresentou-me seu quase hit “matador de passarinho”, uma espécie de paródia da música passaredo de Chico Buarque e Francis Hime. Achei interessante que alguém naquela época ironizasse marotamente a ditadura ecochata ainda incipiente.
Não fiquei por aí. Anos mais tarde descobri que através da figura caricata, construída em parte pela mídia, em parte pelo próprio Skylab e de toda a suposta escatologia e devassidão de suas letras, perpassava algo sutilmente familiar. Talvez conceitos meio fora de moda como pulsão sexual e pulsão de morte, niilismo, degradação ...
Em algumas entrevistas, Rogério repele o caráter humorístico atribuído a suas letras e poemas. “Nunca foi minha intenção fazer algo para as pessoas rirem. Se existe algo neste sentido, é puramente acidental”, Afirma. E a verdade muitas vezes carrega essa ambiguidade em suas entranhas. O trágico e o patético da condição humana se entrelaçam indefinidos numa estranha valsa, como ilustrado na terrível e real imagem de um ‘câncer no cu’.
A verdade explode na cara da gente, A verdade é crua, a verdade é nua, A verdade torce e a verdade estupra. A verdade é puta, a verdade é puta, A verdade trai e nem se incomoda. A verdade grita em poucas palavras, A verdade arde, a verdade arde
A natureza que produz o amor, o sorriso e a flor é a mesma que gera o câncer, o assassinato e a perversão, embora alguns incautos tenham dificuldade de enxergar isso. O desperdício e não o racionamento é o que pauta o nosso processo evolutivo: ”[..]desperdício de lágrimas, desperdício de som, desperdício de nomes, desperdício dos anos, desperdício de sonhos,..”. Desperdício de vidas. A natureza é desperdício e Rogério Skylab é o poeta que canta a natureza em sua plenitude. Sem filtros. Sem Cortes.
Um dos temas centrais desse caldo poético de Skylab é a morte. “Falar da morte é uma forma de sobreviver a ela” disse o artista em uma entrevista recente à Folha de São Paulo. A certeza da morte talvez seja a verdade mais óbvia da existência, ao mesmo tempo que, segundo Clarisse Lispector, ‘O óbvio é a verdade mais difícil de enxergar’. Faz-se necessário e urgente, portanto, que um cadáver nos diga o óbvio.
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