Tagore - Pineal

Por Raul Lopes, em MÚSICA

Tagore - Pineal

08 de Fevereiro de 2017 às 03:10

Acredito que o exercício comparativo que se inicia com com a expressão: "Isso lembra..." trata-se de um verdadeiro desfavor ao leitor, um menosprezo à sua prévia capacidade cognitiva.
O "Isso lembra ..." remete a uma relação associativa que possui como paradigma o parco conhecimento do narrador. O objeto a ser comentado fica atrelado a esse conhecimento, que invariavelmente desvirtua a obra estudada.
No entanto, essa teoria não se aplica quando, declaradamente, o autor se assume fortemente influenciado por uma ou outra pessoa, por um Kevin Parker ou John Lennon, esse é o caso do disco Pineal do Tagore.
Antes do Dylan, o músico Tagore já havia sido agraciado com o prêmio máximo de literatura da academia sueca, isso em 1913. Rabindranath Tagore compôs 2.000 músicas (até o hino da Índia), mas o nosso Tagore é outro, é Tagore Suassuna, um pernambucano que achou um espaço entre os rifes de guitarra e a experiência de morar em Caruaru, interior do Estado, onde pôde realizar um trabalho de imersão na cultura pernambucana, e passou a compor definitivamente em português, um dos fatores que contribuíram para que sua carreira tomasse diferentes rumos.
Em Pineal, Tagore levou um "caldo" da onda psicodélica que atualmente varre o mundo. Essa onda me fez lembrar da obra "A Jangada de Pedra" de José Saramago, onde Portugal se desprende do continente europeu e passa a navegar pelo oceano atlântico. Com Pineal, o Estado de Pernambuco parece que também se descolou do país e passou a navegar em outros mares pela força da brisa de Ave Sangria e de Clube da Esquina.
Pineal é bem distinto dos trabalhos anteriores, Tagore se libertou das amarras que o prendiam ao regionalismo nordestino e de forma muito à vontade elaborou um trabalho neo-psicodélico, onde as músicas estão em perfeita ordem formando um conjunto harmônico que permite Tagore se sentir "alegre de se rir para si, confortavelzinho, como um jeito de folha a cair" - Trecho de As margens da alegria de Guimarães Rosa.
Tagore comanda um time que conta com: Julio Castilho (baixo, guitarra e teclados), Caramurú Baumgartner (percussão e teclados), Emerson Calado (bateria), João Cavalcanti (baixo, guitarra e teclados) e Diego Dornelles (baixo, guitarra e teclados). Em Pineal, essa escalação contou com os reforços de Benk Ferraz e Fernando Almeida (Boogarins).
Se a ciência discute a função da glândula Pineal, no time do Tagore a epífise neural possui duplo ofício. Assim, como num jogo, podemos dizer que o time treinou bastante e criou uma jogada ensaiada chamada Pineal (Disco), onde Mudo bate o centro, Pineal (música) cruza, e Pasto marca um belo gol. E Tagore não lembra Los Hermanos.
Acredito que o exercício comparativo que se inicia com com a expressão: "Isso lembra..." trata-se de um verdadeiro desfavor ao leitor, um menosprezo à sua prévia capacidade cognitiva.
O "Isso lembra ..." remete a uma relação associativa que possui como paradigma o parco conhecimento do narrador. O objeto a ser comentado fica atrelado a esse conhecimento, que invariavelmente desvirtua a obra estudada.
No entanto, essa teoria não se aplica quando, declaradamente, o autor se assume fortemente influenciado por uma ou outra pessoa, por um Kevin Parker ou John Lennon, esse é o caso do disco Pineal do Tagore.
Antes do Dylan, o músico Tagore já havia sido agraciado com o prêmio máximo de literatura da academia sueca, isso em 1913. Rabindranath Tagore compôs 2.000 músicas (até o hino da Índia), mas o nosso Tagore é outro, é Tagore Suassuna, um pernambucano que achou um espaço entre os rifes de guitarra e a experiência de morar em Caruaru, interior do Estado, onde pôde realizar um trabalho de imersão na cultura pernambucana, e passou a compor definitivamente em português, um dos fatores que contribuíram para que sua carreira tomasse diferentes rumos.
Em Pineal, Tagore levou um "caldo" da onda psicodélica que atualmente varre o mundo. Essa onda me fez lembrar da obra "A Jangada de Pedra" de José Saramago, onde Portugal se desprende do continente europeu e passa a navegar pelo oceano atlântico. Com Pineal, o Estado de Pernambuco parece que também se descolou do país e passou a navegar em outros mares pela força da brisa de Ave Sangria e de Clube da Esquina.
Pineal é bem distinto dos trabalhos anteriores, Tagore se libertou das amarras que o prendiam ao regionalismo nordestino e de forma muito à vontade elaborou um trabalho neo-psicodélico, onde as músicas estão em perfeita ordem formando um conjunto harmônico que permite Tagore se sentir "alegre de se rir para si, confortavelzinho, como um jeito de folha a cair" - Trecho de As margens da alegria de Guimarães Rosa.
Tagore comanda um time que conta com: Julio Castilho (baixo, guitarra e teclados), Caramurú Baumgartner (percussão e teclados), Emerson Calado (bateria), João Cavalcanti (baixo, guitarra e teclados) e Diego Dornelles (baixo, guitarra e teclados). Em Pineal, essa escalação contou com os reforços de Benk Ferraz e Fernando Almeida (Boogarins).
Se a ciência discute a função da glândula Pineal, no time do Tagore a epífise neural possui duplo ofício. Assim, como num jogo, podemos dizer que o time treinou bastante e criou uma jogada ensaiada chamada Pineal (Disco), onde Mudo bate o centro, Pineal (música) cruza, e Pasto marca um belo gol. E Tagore não lembra Los Hermanos.
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