Timbuktu (Mauritânia, 2015)

Por Raul Lopes, em CINEMA

Timbuktu (Mauritânia, 2015)

25 de Maio de 2016 às 03:01

Será que existe um local em que o amor é proibido? Falo de amor em sentido amplo, no sentido de praticar o amor e alcançar todos os seus reflexos como, a alegria, o êxtase, a diversão, a paixão, a compaixão, o perdão...
Um lugar onde toda arte é profana e as primas carnais ‘força e violência’ são praticadas em nome de Deus. Nesse lugar até mesmo os bons, uma hora ou outra, serão contaminados pelo imposição do medo, vítimas da interpretação pessoal daqueles que detêm o poder.
Parece que todos estão acuados e por mais que tentem fugir acabam como um antílope que corre desesperadamente da mira do rifle de um caçador, e por mais que corra contra seu destino, uma hora se cansa e acaba por ser abatido.
O mais difícil é tirar de toda essa tragédia um filme poético de belas imagens e de ótimas atuações. O cenário é desértico, com vegetação quase inexistente, onde a menor plumagem, quando avistada, surge como um oásis e tão logo é fuzilada.
A cidade é Timbuktu no Mali e o enredo mostra a atuação de radicais islâmicos nesse pequeno vilarejo pertencente ao patrimônio histórico mundial. O enredo é construído pelo encadeamento de pequenos acontecimentos que acabam criando um mosaico onde a condução da narrativa se apoia na primorosa fotografia, que instiga e corta a cena no momento em que somos atingidos pelo sentimento proposto.
Existem momentos memoráveis, as orientações de um líder religioso a um rebelde, as lições de um simples motorista de camionete ao seu chefe, a declaração de amor de um pai para sua filha, um jogo de futebol sem a protagonista bola e sobra até mesmo para o Brasil numa curiosa justificativa para a derrota da seleção para França na final da copa de 1998.
O diretor Abderrahmane Sissako não deixa a desejar, sustenta bem o roteiro, unindo a plástica de Béla Tarr a câmera de Camilo Cavalcante. Seria interessante se Sissako pudesse filmar o sertão brasileiro, ou até mesmo fazer uma dobradinha com o Camilo Cavalcante. Nesse filme podemos perceber que o deserto da Mauritânia e do Mali estão mais próximos do sertão de Pernambuco do que se imagina.
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